Velho do Farol

Porque sim.

Velho do Farol

27 de fevereiro de 2006

Rewind

Flyer Décadas (frente)   Flyer Décadas (verso)

"Eu tenho o espírito, mas falta o sentido" (Ian Curtis).

Em 18 de maio de 1980, o líder da banda Joy Division (e poeta pós-punk ácido e amargurado) se enforcou na casa de seus pais, por motivos não explicados. Tinha 23 anos.

Por falta de tempo de escrever aqui, ponho esse flyer de uma festa que fizemos há alguns anos pra lembrar a data. Decades é um dos clássicos do Joy, do mesmo disco da música abaixo. Um filme sobre a vida de Ian está em produção.

Heart and Soul
Joy Division

Instincts that can still betray us
A journey that leads to the sun
Soulless and bent on destruction
A struggle between right and wrong
You take my place in the showdown
I'll observe witha pitiful eye
I'll humbly ask for forgiveness
A request well beyond you and I

Heart and soul, one will burn
Heart and soul, one will burn

An abyss that laughs at creation
A circus complete with all fools
Foundations that lasted the ages
Then ripped apart at their roots
Beyond all this good is the terror
The grip of a mercenary hand
When savagery turns all good reason
There's no turning back, no last stand

Heart and soul, one will burn
Heart and soul, one will burn

Existence well what does it matter?
I exist on the best terms I can
The past is now part of my future
The present is well out of hand
The present is well out of hand

Heart and soul, one will burn
Heart and soul, one will burn

por Marcus Pessoa, às 21:03 -

19 de fevereiro de 2006

Bambi



Estava semana passada no trabalho e minha mãe liga, pedindo que eu fosse comprar um presente pra minha prima caçula, que fazia sete anos naquele dia. Fui numa loja, o tempo era escasso, e pensei: "como é que vou escolher entre esse monte de brinquedos e livros infantis?" Por sorte lembrei que ela adora ver filmes em DVD, e tinha vários clássicos Disney à disposição.

Acabei levando Aristogatas, mas apenas porque estava caríssima a edição especial, em DVD duplo, de Bambi. Pensei nesse filme de novo, ao escrever sobre as emoções no escurinho do Olímpia e devido ao lançamento de Bambi 2 -- continuação totalmente desnecessária e que não pretendo conferir. Li algumas críticas sobre a seqüência, e fiquei sabendo que muita gente concorda que o filme original é o melhor desenho animado de todos os tempos.

Eu não vi muitos filmes de Disney na infância, talvez porque não houvesse muitos relançamentos naquela época. Fui ver Bambi já adulto, nas tradicionais sessões matinais de um cinema aqui em Belém. Apesar da cópia em mau estado e da algazarra das crianças na platéia, fiquei muito tocado, principalmente pela maneira dura e sem artifícios que a vida dos personagens era mostrada: a mãe de Bambi tentando arrancar cascas de árvore para comer no inverno, por exemplo. Eu não tinha a menor idéia de que o filme fosse tão "adulto".

Um pouco depois vem a cena mais chocante de toda a obra de Walt Disney: a morte da mãe de Bambi. Todas as crianças presentes na sala abrem um berreiro ensurdecedor. Eu não sabia se ria (pelo inusitado da cena) ou chorava junto com elas. A choradeira era geral, mas entre elas havia um menino de uns oito anos que berrava muito mais alto que os outros: "a mãe do Bambi, a mãe do Bambi!"

Aos poucos foram se acalmando, e o filme seguiu. Mas esse garotinho em especial não se conformou: continuou soluçando o filme inteiro, e de vez em quando gemia, choroso: "a mãe do Bambi, a mãe do Bambi..."

Pensando bem, talvez seja um pouco cruel dar uma cópia desse filme pra uma criança. Estamos ensinando as vicissitudes da vida pra quem talvez tenha o direito de conhecê-las apenas mais tarde. O conhecimento é o fogo que Prometeu deu aos homens, e a tristeza inerente à nossa espécie é a águia que nos rói o estômago todos os dias.

por Marcus Pessoa, às 04:08 -

17 de fevereiro de 2006

The end is the beginning is the end

A última sessão do Cinema Olímpia foi uma noite especial. O cinema lotou, como esperado, e uma parte pequena mas expressiva do público aderiu à idéia do traje de gala. Eu achei isso muito legal. Um amigo disse que no trabalho dele todo mundo estava comentando, "olha, tem que ir de terno". Marketing viral é isso aí. Uma idéia que saiu dessa cabecinha solitária há menos de uma semana foi comentada por muita gente que eu nunca vi na vida.

Fico devendo as fotos, que publicarei hoje ou nos próximos dias. Eu estava tão atarefado que não articulei com meus amigos fotógrafos, que foram pra lá sem o equipamento. Mas muita gente conhecida fotografou, e estou entrando em contato pra pegar as imagens. De qualquer forma, a idéia dos trajes deu um colorido especial, tanto que as várias equipes de TV procuravam justamente os que estavam vestidos a caráter pra entrevistar. Eu dei tanta entrevista que fico feliz por terem acabado meus quinze segundos de fama: daqui a pouco eu ia ficar que nem aqueles políticos que quando alguém abre a geladeira, pensam que holofote de TV e começam a deitar falação...

O tom geral não era de despedida, mas de mobilização para evitar o fechamento definitivo do cinema. Qualquer coisa que fosse dita sobre o assunto seria aplaudida, e o fato é que a direção local da ABDeC -- Associação Brasileira de Documentaristas e Curtametragistas -- se excedeu na tentativa de liderar a mobilização.

Antes da sessão começar, um de seus representantes fez um longuíssimo discurso, que parecia horário eleitoral gratuito, apresentando uma "proposta concreta" que, de tão detalhada, dizia até em que horário deveriam ser as sessões do "novo" Olímpia. Parecia até que eles já tinham dinheiro, que a sobrevivência do cinema já estava assegurada, e que eles estavam numa reunião de trabalho. Em resumo: sacal. Pela proposta, parecia que o Olímpia seria a solução para todos os problemas culturais do Estado.

Aí tivemos o Syriana, que merece um post só para ele. Que belíssimo filme! Um filme político clássico, sem qualquer tipo de melodrama, e que dá uma visão abrangente da complexidade da situação no Oriente Médio. O final é impactante, e todos conhecemos aquela sensação prazerosa de ver passarem os créditos enquanto refletimos sobre o que acabamos de ver, né?

...mas nesse caso não tivemos esse prazer, pois o mesmo diretor mala da ABDeC surgiu de novo, pediu pra cortar o som e deu duas informações: (a) que o MinC já tinha se manifestado disposto a ajudar; (b) que o prefeito de Belém, Duciomar Costa, havia aparecido há pouco no hall de entrada e dado seu apoio à reabertura do Olímpia.

Primeiro: todo mundo sabe que o MinC não tem dinheiro pra nada, muito menos pra reconstruir um cinema particular quase centenário. Esse tipo de falsa esperança que a ABDeC deu aos espectadores parece demais com conversa politiqueira.

Segundo: é verdade que Duciomar se comprometeu a reabrir o cinema. Mas é algo pra se ouvir com a devida desconfiança, afinal Dudu (como é conhecido aqui em Belém) não liga a mínima para a cultura, e nunca foi visto em qualquer evento cultural na cidade. Sua realização nessa área é zero, e é claríssimo que sua ida ao cinema foi um gesto dos mais oportunistas, uma vez que sua gestão é catastrófica e a mobilização em torno do Olímpia lhe deu uma mídia a que ele não fazia jus.

Dudu tem se dedicado a destruir várias realizações da gestão petista que o antecedeu, entre elas o belíssimo projeto Sementes do Amanhã, que retirou as crianças que catavam lixo no Lixão do Aurá e deu-lhes escola e dignidade. Também foram para o vinagre a bolsa-escola municipal, a Escola Circo, o Banco do Povo e qualquer coisa que lembrasse o PT. Só o fim da bolsa-escola gerou uma economia de milhões por mês, e como a prefeitura não fez obra nenhuma em seu primeiro ano, dá pra imaginar pra onde está indo o dinheiro...

Eu acho meio absurdo que ONGs teoricamente progressistas estejam ajudando esse pulha a posar de mecenas das artes. Pode ser radicalismo de minha parte, mas se o Olímpia for reaberto com dinheiro da prefeitura, eu vou olhar pra ele e lembrar que isso é dinheiro roubado das crianças. Uma sala de cinema não é tão importante assim. Eu até prefiro que ela fique só na minha memória, pois senão ela volta para as minhas lembranças da pior forma possível.

por Marcus Pessoa, às 09:41 -

15 de fevereiro de 2006

A última sessão de cinema

Quando eu estava escrevendo esse post sobre o fim do Cinema Olímpia, bateu um aperto no coração. Lembrei do quanto o cinema é importante na minha vida, e de quanto ir ao cinema é ainda hoje pra mim um ritual.

Quando o outro cinema citado no post, o Palácio, foi vendido para a Igreja Universal, só ficamos sabendo disso quando ele já estava desativado. Com o Olímpia é diferente: ele tem data e hora marcada para fechar: amanhã, dia 16, às 8:40 da noite, com Syriana, filme que pode dar o Oscar de ator coadjuvante a George Clooney.

Naquela madrugada insone em que estava escrevendo o post, lembrei do clássico filme de Peter Bogdanovich, e também do glamour que cercava as premières do Olímpia nos tempos áureos. Tempos que não vivemos; mas é isso mesmo, existe entre os belemenses uma nostalgia arraigada de um tempo que não se viveu, e que está eternizado em livros de fotos sobre a época da borracha.

Não há, em termos práticos, a menor possibilidade de salvar o Olímpia, então por que não lhe dar, pelo menos, uma despedida digna de sua história? Comecei a ligar para os amigos e propor que fôssemos à última sessão como se fazia antigamente nas premières, com roupa de festa: traje passeio para os homens e vestidos longos para as mulheres. Perguntei se a idéia era muito maluca, e acharam que não.

Resultado: criamos uma comunidade no Orkut e o assunto está sendo publicado todos os dias na imprensa daqui. Nem todo mundo tem esse tipo de roupa, mas nesse caso vai valer o improviso: um xale, um chapéu, um blazer mais incrementado, qualquer coisa vai valer para a homenagem.

A minha idéia é fingir. Fingir que estamos num mundo onde o cinema ainda faz diferença na vida da pessoas, e não é apenas uma diversão ligeira num final de tarde no shopping. Fingir que ainda existe respeito à história das coisas e das pessoas. O fingimento é o que nos resta agora, e quem faz um filme finge que a realidade é mais colorida do que vemos com nossos olhos cansados.

Como dizia Fassbinder: o amor é mais frio que a morte, e o cinema é mais quente que a vida.

Cinema Olympia
(Caetano Veloso)

Interpretação: Elis Regina

Não quero mais essas tardes mornais, normais
Não quero mais videotape, mormaço, março, abril
Eu quero pulgas mil na geral, eu quero a geral
Eu quero ouvir gargalhada geral
Quero um lugar para mim, pra mim e pra você
Na matinê do cinema Olympia, do cinema Olympia

Tom Mix, Buck Jones, tela e palco
Sorvetes e vedetes, sustos e coladas
Espartilhos, pernas e gatilhos
Atilhos, gargalhada geral
Do meio-dia até o anoitecer
Na matinê do cinema Olympia, do cinema Olympia

por Marcus Pessoa, às 10:54 -

14 de fevereiro de 2006

Polêmica

Isso é tudo o que eu tenho a dizer sobre a guerra dos cartuns:



Via Pedro Dória.

por Marcus Pessoa, às 23:58 -

12 de fevereiro de 2006

Kick out the jams

White Rose Movement

Sua festa está desanimada? Você está enjoado de seus discos? Não acha mais o que ouvir pra dançar sozinho no quarto? Seus problemas acabaram!

Está rodando em alta velocidade nos programas de trocas de arquivos Kick, o disco de estréia da banda inglesa White Rose Movement. Um discaço de rock + eletrônica, de pique altíssimo do início ao fim. É só pôr pra rodar da primeira à última faixa e dar ao DJ uma folga para o café.

A bolacha chega às lojas no mês que vem, e os singles já lançados deram o que falar. Sim, é mais um artista a exumar a new wave dos anos 80. Sim, é mais uma melhor banda de todos os tempos da última semana. Rock pós-punk garageiro e synth-pop retrô em doses exatas.

O nome refere-se a um movimento anti-fascista alemão dos anos 40, então: abaixo os fascistas do mau gosto!

London's Mine

por Marcus Pessoa, às 12:52 -

11 de fevereiro de 2006

O fim do Olímpia

A notícia caiu como uma bomba entre os cinéfilos de Belém: o Cinema Olímpia, mais antigo cinema do Brasil ainda em atividade, deve fechar as portas no próximo dia 16.

O Grupo Severiano Ribeiro, proprietário da sala, alega que a renda das exibições não cobre os custos de manutenção. O Olímpia é um exemplar de uma espécie em extinção: um cinema grande, "de rua", no centro da cidade. Mesmo programando apenas blockbusters, dificilmente consegue sessões cheias.

Pra quem se educou vendo filmes em salas multiplex, é difícil entender a mística dos grandes e antigos cinemas de rua.

Quem prefere multiplexes quer conforto e excelência de projeção, mas os modernos complexos lembram uma linha de montagem. Muitos vão ao cinema hoje dentro de um programa mais amplo: ir ao shopping, passear e escolher o filme de acordo com o horário das sessões. Eu sei que isso é um puta papo saudosista, mas as salas atuais não têm personalidade, são apenas um espaço utilitário e nada mais. Fazer o quê? Eu cresci aprendendo a sentir uma emoção especial apenas de entrar no cinema, lembrar dos filmes que vi lá, sentir a ressonância afetiva de suas paredes.

O Severiano Ribeiro vendeu há quase dez anos para a Igreja Universal outra grande sala de sua propriedade, o Cinema Palácio, ainda maior que o Olímpia, e que possui um grande mezanino com centenas de lugares. Às vezes, zapeando nas madrugadas, vejo um programa local da igreja e sinto um aperto no coração. A iluminação interna é hoje bem forte, e eu fico pensando em quantas emoções vivi naquele mesmo lugar, no escurinho...

Eu sou de um tempo em que o ingresso de cinema custava menos de um dólar, e qualquer filme lotava nos domingos. A gente até torcia para o Palácio lotar, porque aí eles abriam o mezanino e podíamos ver o filme de um local privilegiado.

Já tivemos no Olímpia sessões lotadas de Saló, filme-provocação de Pier Paolo Pasolini baseado em um dos mais impactantes livros do Marquês de Sade -- e onde metade da platéia saía de fininho com as primeiras cenas de estupros, torturas e coprofagia. Na única vez em que o Festival de Gramado foi ampliado para salas de todo o país, a exibição de filmes como Faca de Dois Gumes e Doida Demais foi um sucesso absoluto.

O Olímpia não é histórico apenas por ser o mais antigo. Inaugurado em 1912 com o nome de Olympia, foi o primeiro cinema de luxo em Belém. As premiéres eram freqüentadas por senhores de terno e gravata e senhoras vestindo longos. A decoração tinha os mais finos mármores e os mais delicados lustres de cristal -- que eu saiba, o único cinema no Brasil que ainda mantém intactas essas características é o São Luiz, em Fortaleza. As fotos que ilustram esse post dão uma idéia do clima da época. Em torno dele formaram-se as primeiras comunidades de cinéfilos, e havia até um Jornal Olympia, dedicado a notícias e críticas de cinema.

Na minha infância ele ainda tinha uma decoração elegante, mas as sucessivas reformas o descaracterizaram completamente. Ainda assim, o prédio é tombado pelo patrimônio histórico.

No fundo, todos nós que acompanhamos as mudanças do mercado cinematográfico, sabemos que cinemas como esse estão fadados à extinção, mas é sempre um choque uma notícia dessas. Tanto que a comunidade está tentando se mobilizar para salvar o Olímpia -- como já foi feito nos anos 50, quando movimentos de estudantes fizeram até piquetes exigindo reformas no prédio, que estava deteriorado.

A empresa proprietária já avisou que não pretende demoli-lo (até porque não pode) ou vendê-lo a uma igreja. Verdade seja dita: foi a insistência do exibidor em preservar um monumento histórico que manteve o cinema funcionando muitos anos mesmo sem retorno financeiro. Agora eles procuram parcerias para transformá-lo num centro cultural -- algo que foi feito com sucesso no já citado São Luiz, em Fortaleza, dos mesmos donos. De qualquer forma, o futuro é bastante incerto, e é bem possível que a sessão de quinta feira à noite seja mesmo a última.

Aconteça o que acontecer, eu estarei lá pra me despedir. Mesmo que seja pra chorar sobre o leite derramado.

Como disse o Vampiro Lestat no segundo e fantástico volume das crônicas vampirescas de Anne Rice: o mundo está cada vez mais parecido com um panteão de estátuas quebradas.

por Marcus Pessoa, às 07:18 -

10 de fevereiro de 2006

Bastard pop, mash-ups

Pra quem não clicou no link sobre bastard pop no post passado ou não lê em inglês: esse "gênero" musical é a junção de duas músicas diferentes formando uma terceira -- normalmente usando métodos digitais. Com a internet e os programas de troca de músicas, virou uma febre. O mais legal é quando são músicas bem conhecidas, pois a gente se espanta e até mesmo cai na risada com as misturas malucas que esse pessoal inventa.

Uma correção: lá embaixo em falei em smash-ups, mas o correto é mash-ups. Eu fiz a confusão por ter lido que a colaboração entre Linkin Park e Jay Z era uma "colisão".

Abaixo tem dois exemplos muito bacanas de bastard pop, ambos usando Song 2, o arrasa-quarteirão do Blur. No primeiro a base fica intacta e apenas o vocal é trocado (foi isso que Madonna fez, cantando Hung Up sobre um trechinho do arranjo original de Feel Good Inc dos Gorillaz). No segundo há uma junção dentro do próprio arranjo. Clique para ouvir.

Blur vs. Madison Avenue - Don't Call Me Song 2
Blur vs. Cassius - My Feelings for Song 2

por Marcus Pessoa, às 07:25 -

8 de fevereiro de 2006

Pop bastardo para as massas

O Grammy sempre foi a coisa mais chata da face da Terra, mas a abertura desse ano foi de cair o queixo, com o encontro entre Gorillaz e Madonna.

O show não foi menos que sensacional. Os Gorillaz (que estavam tocando ao vivo sim) pareciam, sei lá, hologramas de computação gráfica, interagindo com a cantora e com o De La Soul, banda de hip hop que participa da melhor faixa de seu último disco (Feel Good Inc). No meio da levadinha de violão que é o maior charme dessa música, surge a deusa, cantando os primeiros versos de Hung Up.

Mal pude acreditar no que estava ouvindo. Duas das maiores estrelas da música pop fazendo um smash-up mash-up ao vivo, como que legitimando a tendência do bastard pop, hoje restrita ao underground por ignorar sem cerimônias os direitos autorais.

O show solo da cantora não foi diferente de suas apresentações no Europe Music Awards, em Lisboa, ou no pocket show do Koko's Club, em Londres -- ou seja, ótimo.

Assim que o vídeo da apresentação estiver disponível na net (o que acontecerá quase na velocidade do pensamento), posto o link aqui.

Update: revi o show no videocassete e percebi o truque. O encontro foi apenas "virtual", mas ainda assim muito bacana.

Update essencial: o vídeo já está disponível no final do post. Enjoy!


Outros updates: Adriane Galisteu e João Marcelo Bôscoli são aparentemente as pessoas mais sem noção do planeta, fazendo comentários idiotas durante os números musicais. Nessas horas dá vontade de ter TV por assinatura -- não, pensando bem, eu não quero ficar entubado na Matrix.

O Coldplay mostrou mais uma vez que é uma fraude, e Chris Martin o maior mala sem alça do rock -- em que pese Talk ser até bonitinha, pela presença de um riff clássico do Kraftwerk.

O U2 apresentou sua pior faixa de trabalho desde sempre (a chatíssima Vertigo) e emendou com One, aquela que The Edge confessou que fez em cinco minutos. Pop vagabundinho da pior espécie, e chamaram uma cantora lá pra demonstrar que Bono não canta nada.

Paul McCartney fez um grande show, tocando primeiro uma das faixas de seu (bom) último disco e depois Helter Skelter, para surpresa de todos. O rock apareceu naquele palco pela primeira vez na noite.

Que coisa tosca a homenagem a Sly and the Family Stone! Bôscoli fez seu único comentário inteligente da noite, dizendo que parecia "concurso pra ver quem improvisava mais". De fato, lembrava um show de calouros, um monte de gente fazendo fila pra participar de um pout-pourri das músicas da lendária banda.

Até que Joss Stone e o negão dos Black Eyed Peas conseguiram se destacar um pouco, mas tudo empalideceu quando Sly Stone em pessoa apareceu com um topete moicano loiro gigantesco (!). Sei não, acho que com esse topete ele não precisava nem cantar e tocar pra roubar o show...

O segundo smash-up mash-up da noite foi uma grande surpresa. O que parecia apenas uma apresentação normal de Linkin Park e Jay Z evoluiu para uma performance política, com raps e vídeos lembrando a luta dos direitos civis (a imagem de Rosa Parks fechou a apresentação). Aí eu começo a ouvir um samplezinho conhecido no fundo, e Paul McCartney volta ao palco, de surpresa, para cantar Yesterday junto com os anfitriões! Bacana.

Agora está o Bruce Springsteen interpretando uma bela música de seu último disco, apenas no violão e gaita. Mas eu tenho que ir dormir. E não falei dos quilos de cafonália que eu tive que aturar pra ver um ou outro que prestasse. Ver programas sem noção faz de Marcus um bobão.



Gorillaz & Madonna - Grammy 2006

O vídeo acima (18 MB) está com uma qualidade de imagem assim-assim, mas dá pra ver. Já está rolando na net um arquivo de alta resolução (136 MB), mas eu ainda não tenho o link. Assim que souber de alguma coisa, farei um novo update.

por Marcus Pessoa, às 22:28 -

Casa nova

Bem, eu estava tentando criar um template menos escalafobético que o anterior, e percebi que era uma bobagem me acorrentar para o resto da vida blogueira a um livro que, apesar de eu ter gostado muito, é recheado de clichês, como explica o Polzonoff no texto linkado.

O nome novo do blog não é plágio do Nelson, mas apenas uma continuação do espírito do anterior: um lugar alto pra vislumbrar a paisagem ao redor. Como sempre, tá uma neblina desgraçada agora, mas a gente tenta, né?

Atualizem seus bookmarks, please, e a assinatura do feed, cujo endereço também mudou.

por Marcus Pessoa, às 03:59 -

6 de fevereiro de 2006

We can wipe you out anytime



Sit down
Stand up
Walk into the jaws of hell
Anytime
We can wipe you out anytime
The rain drops

(Radiohead)

Tudo o que você queria saber sobre a Guerra do Iraque e não tinha a quem perguntar.

O vídeo demora pra carregar (são 10 MB), mas vale muito a pena, confiram. Ajustem o volume antes de reproduzir; o som está um pouco alto.

Não tenho a menor idéia de onde ele veio ou se é um vídeo oficial do Radiohead. Sua existência na rede, sem maiores referências, expressa bem o quão excitante é o YouTube e a possibilidade de qualquer um publicar conteúdo na web. Quem ainda vai esperar pelas flácidas estruturas da mídia oficial?

Agora que o tonto aqui aprendeu a colocar os vídeos na página, e percebeu o quanto é prático para o leitor esse esquema (o vídeo só é carregado se o player é clicado), parece que teremos TV, por que não?

por Marcus Pessoa, às 00:55 -

5 de fevereiro de 2006

Feeds, Bloglines, etc

A Andrea perguntou sobre o assunto numa caixa de comentários e eu mandei-lhe um e-mail explicando a questão, mas como interessa a todos (e não apenas aos nerds de carteirinha) vou falar sobre isso aqui. É o tal negócio: para alguns isso é carne-de-vaca, pra outros é novidade total.

Feed é um arquivo que funciona como índice do conteúdo de um site. É um formato padronizado, e você pode "assinar" o feed com um programa ou site específico, sendo avisado quando o conteúdo for atualizado.

Algumas pessoas chamam de RSS, mas o RSS é apenas um dos formatos de feeds -- existem outros, como o Atom, usado aqui no Blogspot. Mas isso são detalhes. O importante é que os feeds são a melhor forma de organizar o conteúdo que você lê na web.

O feed do Velho do Farol é esse aqui (está linkado na barra lateral, através do ícone laranjado). Abri-lo no navegador não vai mostrar muita coisa; bom mesmo é aprender como usá-lo.

Para assinar e gerenciar feeds, usamos os agregadores de conteúdo. Existem vários disponíveis, mas, para facilitar a vida do neófito, vou apresentar o mais popular e amigável deles, o Bloglines.

Ele tem uma interface bem simples e prática. Você abre uma conta (gratuita), clica em My Feeds e já pode ir adicionando seus favoritos. No painel esquerdo aparecem os feeds, e em negrito aqueles que foram atualizados. No painel direito, o conteúdo ou resumo dos posts ou notícias. Para vê-lo em ação, clique aqui e dê uma olhada nos feeds que eu estou assinando no momento.

Simples, né? Isso não é restrito a blogs, vários sites noticiosos (Folha, Estadão, BBC Brasil) usam feeds. Os usos são os mais diversos possíveis. Eu acompanho pelo Bloglines, por exemplo, os filmes que vazam na net, as novas extensões para o Firefox e até mesmo os blogs que linkam para o Velho do Farol.

Para achar o feed do seu blog favorito você tem duas opções. Uma delas é procurar na barra lateral deste por "RSS", "Atom", "XML", "Syndicate this file" ou coisa que o valha; esse é o link para o feed. A outra é usar o Firefox ou o Opera, que avisam automaticamente quando existe um feed no site visitado.

O Internet Explorer 7 vai ter detecção automática de feeds, e vai usar o mesmo ícone que o Firefox já usa. Portanto, se você vir em algum lugar o simpático ícone que ilustra esse post, já sabe de que se trata.

Eu particularmente recomendo o uso do Firefox em conjunto com a extensão LiveLines, que com apenas um clique permite assinar o feed no Bloglines a partir da própria página que eu quer incluir. Mão na roda para quem é adicto por blogs novos...

Um último recado: o Blogger tem o recurso de feeds há um tempão, então não dá pros coleguinhas que têm seus blogs hospedados aqui deixarem de usá-lo. É muito simples de habilitar, basta ir no Painel, em Definições, Site Feed, e responder "sim" à primeira opção. A Daniela, por exemplo, tem um blog maravilhoso, que eu não acompanho com a devida atenção, pela falta desse recurso básico.

por Marcus Pessoa, às 03:11 -

4 de fevereiro de 2006

Oscar

(tá, fico devendo para os próximos dias a ridícula retrospectiva musical de 2005, totalmente extemporânea; como eu tô ficando fanático em baixar filme no computador, vou fazer um "breve" comentário sobre alguns dos indicados ao Oscar)

TransamericaTransamerica

Dizem que Reese Whiterspoon vai tirar de Felicity Huffman o Oscar de melhor atriz, o que será uma grande injustiça. A estrela de Desperate Housewives está perfeita como o transexual Stanley / Sabrina, às vésperas de sua cirurgia. A gente olha e jura que é um homem, frágil e atrapalhado.

Mas não é apenas a parte "técnica" de sua interpretação que vale. O filme é uma coisa linda, um road movie mostrando a lenta aproximação desse homem / mulher com o filho que não conhecia (Kevin Zegers, também excelente). Há um equilíbrio admirável entre drama e comédia, e ficamos com a certeza de que as "novas" sexualidades são um manancial de histórias ainda não contadas, tão interessantes quanto as convencionais.

Brokeback Mountain

Falar demais sobre ele seria chover no molhado. Quero apenas acrescentar que li o conto de Annie Proulx que deu origem ao filme e fiquei surpreso com a extrema fidelidade ao relato original -- algo pelo qual a autora agradeceu à produção, aliás. E é isso mesmo, não tem magiquinha de roteiro, é apenas uma história sofrida e torturada. Não é história de amor, é história dos obstáculos a um amor.

Brokeback MountainMas eu não canso de admirar a toupeirice de certas pessoas. Tá, não vou querer unanimidade sobre o filme, mas tem gente dizendo que "é um bom filme, mas não é tudo isso que estão dizendo". Ah, vá catar coquinho! Levar em conta o que os outros estão dizendo na hora de julgar uma obra é o fim da picada.

Outros viram "frieza", falta de emoção, de motivação nos personagens. Quá quá quá! Tem mais emoção represada em cada olhar de Ennis Del Mar do que nas obras completas da maioria dos autores desses filmes melosos. Em resumo, uma masterpiece, um filme histórico por ter feito gente comum pensar sobre quem sempre foi objeto de seu desprezo, e que deixa falando sozinhos os reaças-moderninhos capazes de dizer que "os gays já conseguiram o que querem".

Boa Noite e Boa Sorte

Vocês lembram de Kingdom of Heaven, né? (que aqui ganhou o medonho nome de "Cruzada") O filme é assim-assim, mas desde o início percebe-se que é um filme de época direcionado explicitamente para comentar o momento atual.

O filme novo de George Clooney é a mesma coisa, e quem disser isso como se tivesse descoberto a pólvora é um tolo -- é algo óbvio. É preciso explicar as similaridades entre a época das perseguições do senador Joseph McCarthy com o ataque atual aos direitos civis, Patriotic Act e tal? Assim como naquela época, quem se coloca contra esse estado de coisas é tachado de subversivo, perigoso, etc. Tem gente chamando o Partido Democrata e a so called liberal media de esquerda!

Bem, só a voz de David Strathairn já valia um Oscar. Não sei se o discurso marcante de Edward Murrow ficaria tão bem sem essa voz profunda de locutor de rádio. O filme é lindamente fotografado, roupinhas e cenários impecáveis, jazz de primeira na trilha. Levaria fácil o Oscar de melhor filme, se não tivesse uns certos pastores de Wyoming no caminho...

Capote

Philip Seymour Hoffman vai ganhar o Oscar de melhor ator por esse filme, o que eu acho um exagero. Ele é um ator excepcional, mas nesse papel não mostra grande coisa a não ser uma dicção irritante de criancinha afeminada. O Truman Capote de Bennett Miller é uma esfinge, um personagem que não diz a que veio, e só sabemos dele quando este verbaliza o que sente.

O filme é extremamente convencional e meio chato. Tá, a história é cheia de lacunas porque o que interessa é a relação entre Capote e Perry Smith, um dos assassinos retratados em sua obra-prima A Sangue Frio. Aí vamos ver a relação entre os dois e... vemos mais um monte de lacunas. Qual o interesse do escritor? Apenas arrancar do assassino uma explicação vazia para o crime, terminar o livro e pronto? Capote diz em certo momento que a investigação mudou seu modo de pensar, e que seu livro vai mudar o modo de pensar da América. Não vemos nada disso na tela.

King Kong e AnnKing Kong

O épico de Peter Jackson chegou a ser cogitado para uma indicação aos Oscars principais (pelo menos a de diretor), mas ficou mesmo só nos prêmios técnicos. Uma pena, pois ele é apenas na superfície um "blockbuster de ação apoiado em efeitos especiais".

Tem algumas cenas inverossímeis, e é esse o principal objeto das críticas. A fuga dos brontosauros! A luta com os tiranossauros! O ataque dos insetos! Ai meu saquinho. Essa parte é fraca mesmo, e daí? É apenas uma piscadela do ex-gorducho para as platéias adolescentes: "eu deixo a bunda de vocês colada três horas na cadeira, mas tem um tempinho procês se divertirem, tá"?

O filme é mais do que isso, claro. Jackson transformou uma historinha de filme B numa grande tragédia moderna. O que faltou completamente ao Senhor dos Anéis -- ritmo, conseqüência, objetividade -- sobrou em King Kong. Sim, um ritmo lento, como convém a uma ópera, pois é isso que o filme é. Não dá pra encadear o clima de uma tragédia correndo contra o relógio.

Nenhuma das versões anteriores captou de forma tão clara a nobreza e a solidão de Kong. Nunca houve uma Ann como essa, que realmente entende o que ele sente. Que se recusa a fazer parte de sua degradação. Quando Kong sobe no Empire State, está dizendo: "vejam como eu estou no topo do mundo. Estou no topo do seu mundo. Eu posso. Eu sou o maior". Seria Kong a ponte entre o animal e o übermensch? Pelo menos ele subiu com bravura na corda estendida sobre o abismo.

por Marcus Pessoa, às 14:50 -

Voltar para a página inicial