Velho do Farol

Porque sim.

Velho do Farol

30 de maio de 2006

Viver, etc.

Grande Sertão: Veredas está fazendo 50 anos.

Difícil descrever a sensação de quando o li. Foi assim como um monolito desgovernando me rachando a cabeça. Entre as pausas pra tomar fôlego, só conseguia pensar na minha descoberta pessoal da filosofia -- os pré-socráticos, em cuja época, refletir sobre os problemas básicos parecia algo acessível a qualquer homem comum, e não apenas aos estudiosos.

Ao colocar as questões essenciais da existência na boca de seus matutos, Guimarães Rosa parece dizer que estamos todos perdidos no imenso sertão de nós mesmos. E faz isso de forma bem original, inventando palavras onde o dialeto não dá conta. O leitor nunca saberá exatamente o que é o dialeto e o que é a pegadinha erudita do autor. Assim, a introspecção filosófica torna-se algo natural e nem um pouco forçado.

Os jagunços do sertão estão sempre em situações-limite e só conseguem se aproximar dos mistérios do sertão pelas beiradas. Refletem a condição humana em geral, pois "viver é muito perigoso" não só pra eles, mas pra todo mundo.

Gostei de Daniel Piza, no texto linkado, ter se referido à "tristeza dos cavalos", dentro da experiência prática que Rosa teve no sertão, antes de tornar-se diplomata. Existe uma cena no livro, envolvendo cavalos, que é muito emocionante, de chorar mesmo. Em outro livro, "Ave Palavra", Rosa diz que "amar os animais sobre todas as coisas é o maior sinal de humanidade".

Tive apenas a infelicidade de ter visto a versão em minissérie da Rede Globo antes de ler o livro, e nunca ter conseguido deixar de pensar em Riobaldo e Diadorim com os rostos de Tony Ramos e Bruna Lombardi. Aliás, a escalação de Bruna me pareceu um caso de miscasting: embora Diadorim fosse bonito e delicado, se tivesse o rosto de Bruna seria um homem de beleza sobrenatural, e enfeitiçaria não só Riobaldo mas todos os jagunços ao seu redor.

(via Pedro Doria)

por Marcus Pessoa, às 18:23 -

Hype

Dangerous MuseOs moços aí ao lado são o Dangerous Muse, nova sensação da cena eletropop novaiorquina. Li primeiro no Philipinas, e agora saiu matéria no Gente Fashion. O zumzumzum lá nos EUA foi tão grande que o primeiro single entrou direto em segundo lugar na parada dance do iTunes.

O som deles é bem feito, mas vamos combinar, não tem nada demais. O sucesso se deve principalmente a uma boa estampa e a uma imagem "estilosa" e sensual. Dão a impressão de ser ex-figurantes de clipes dos Pet Shop Boys que agora fazem música, imitando-os.

Muito mais interessante é outra dupla eletropop, o Gil Mantera's Party Dream (foto abaixo), de Ohio, que lançou em fevereiro um disquinho genial, Bloodsongs.

Carismáticos, adeptos de performances hilárias e ultrajantes, fazem uma música festiva, com inegável sabor retrô e nada blasé.

Não entendo por que são tão pouco conhecidos. Vai ver, precisam contratar um personal trainer, um hair stylist e se adequar ao figurino muderno.

Gil Mantera's Party Dream

Elmo's Wish
(Gil Mantera's Party Dream)

por Marcus Pessoa, às 13:31 -

27 de maio de 2006

Canção para dizer adeus



O Placebo sempre fez ótimos vídeos. Conheci a banda através do impressionante Pure Morning, que parece mais um curta metragem que um vídeo promocional.

O último disco, Meds, é fraquinho, mas pegaram a melhor música, Song to Say Goodbye, e fizeram outro vídeo de cair o queixo, que subverte o sentido original da canção.

O que era apenas uma briguinha de amor, virou uma triste despedida, num clima surreal (com ecos de Just, do Radiohead). Uma história sem esperança mas com muito sentimento.

Duração: 3:58 min. Tamanho: 8 MB.

por Marcus Pessoa, às 17:50 -

21 de maio de 2006

Teoria da conspiração

O Fabiano, co-autor do blog do Nemerson Lavoura, veio na caixa de comentários desse post colocar links para "provar" que o PT tem ligações com o PCC (sic).

Eu respondi de forma monossilábica, pois acho uma perda de tempo refutar teorias conspiratórias. Tendo em vista, porém, que eu já estava debatendo com ele no Orkut (comunidade Belém) sem saber que era ele, achei que seria uma boa idéia colocar aqui uma explicação sobre as maluquices que a direita escreve a respeito das relações "perigosas" do PT.

Já fui filiado ao partido de 1987 a 1990, mas minha intenção não é defendê-lo, apenas mostrar que a direita não tem seriedade na discussão e fala sobre o que não conhece. O texto ficou longo, mas assim eu explico as coisas direitinho e não terei mais que voltar ao assunto.

* * * * * * * *

Não há como negar que a presença de Olavo de Carvalho na grande imprensa, há um tempo atrás, foi um fator que fez a direita sair do armário. Quase ninguém, na política tradicional, se assume como direita, mas tem uma nova geração que, influenciada pelo Olavo, está desfilando em blogs e comunidades do Orkut seu reacionarismo sem disfarces.

O problema é que Olavo passou do ponto e começou a viajar na maionese. Inventou um movimento comunista internacional que abrange a ONU, o Partido Democrata norte-americano, a social-democracia européia e o terrorismo islâmico. Afirmou que Bill Clinton era agente de Pequim. Questionou a idéia de que é impossível a um bebê anencéfalo sobreviver. Utilizou-se de argumentos criacionistas para atacar o darwinismo. Pretendeu-se a "refundar a filosofia do ponto em que Kant a pegou". Esses são os exemplos mais esdrúxulos, tem muitos outros.

Perdeu com isso toda a respeitabilidade e foi defenestrado dos órgãos de imprensa onde escrevia: O Globo, Folha de S. Paulo, Época e Bravo. Hoje só publica em veículos do segundo escalão, como Jornal do Brasil, Zero Hora e Jornal do Comércio.

A mais difundida de suas patranhas é o Foro de São Paulo, uma mesa de debates de partidos de esquerda da América Latina que ele descreve como um bem organizado e secretíssimo partido comunista internacional. Do Foro participa desde a social-democracia até a esquerda revolucionária, incluindo as FARC, guerrilha colombiana que hoje se sustenta através do narcotráfico.

Quem conhece a esquerda sabe como são esses fóruns de debate. Um monte de blá-blá-blá sem efeitos práticos, e cujas "resoluções" não passam de linhas gerais, ou moções de apoio ou contra alguma coisa. Existe até uma piada interna da esquerda: quando quer se esquecer do assunto, forma-se uma comissão para estudá-lo.

Alguém realmente acredita que Hugo Chávez, o PT e o Partido Socialista chileno (três integrantes do Foro) têm algum tipo de unidade de ação? O próprio governo dos Estados Unidos percebe as diferenças. E como se sabe, "a esquerda não se une nem na cadeia".

As FARC são apenas um entre dezenas de integrantes, mas a direita fala apenas nelas, pois é mais fácil demonizar o PT dizendo que ele tem como parceiro de debates uma entidade sócia de narcotraficantes.

Até o momento, não se demonstrou qualquer relação especial entre o PT e as FARC. A denúncia da Veja sobre o dinheiro que estas teriam dado à campanha de Lula é uma piada. Fala apenas de um padre ligado às FARC que teria dito numa festa que eles iam dar dinheiro ao PT. E isso baseada em documentos falsos da Abin, que não foram autenticados por ninguém, nem por fontes anônimas. Note-se que, nessa época, a Abin estava sob o comando do presidente Fernando Henrique Cardoso.

A direita brande como "prova" de que o Foro é algo mais, o fato dos documentos oficiais terem sumido do site da entidade. Até fizeram uma seção no Mídia sem Máscara para divulgar os documentos "perdidos". Vão lá e leiam. Não tem nada que se assemelhe a um plano unificado de dominação do continente. O que parece evidente é que o PT, que nos últimos anos abrandou (e muito) o seu discurso radical, quer agora manter distância das FARC.

Uma teoria conspiratória funciona nessa base: "eu não tenho nada que prove o que eu digo, mas bem que poderia ser". É a mesma coisa que estão fazendo agora, ao dizer que o MST tem relações com o PCC (!).

O que há de concreto sobre isso? Uma escuta telefônica onde um integrante do PCC diz que recebeu conselhos de um militante do MST sobre como organizar uma passeata de mulheres e parentes de presos. Mesmo que seja verdade, não há nada de ilegal nisso, e muito menos uma ligação entre as duas entidades. O que temos é simplesmente uma colaboração individual para organizar uma passeata, que aliás é algo de que o MST entende mesmo.

Entenderam o raciocínio binário? PT => FARC => PCC, ou PT => MST => PCC. A partir de pontos sem relação entre si, monta-se uma conspiração.

Depois reclamam quando eu digo que não perco tempo refutando essas asneiras. Acabei de perder uma hora e meia com isso. Mas, como se sabe, pra cada linha de argumentos idiotas são preciso várias para mostrar quão idiotas eles são.

por Marcus Pessoa, às 16:58 -

Links

Meu chapa André Lasak começou nesta semana, depois de uma intensa preparação, a percorrer o Caminho de Santiago, na Espanha, numa jornada pessoal de reflexão e autoconhecimento. Está fazendo um diário da aventura em seu blog, que já tem nos arquivos muita informação para quem estiver interessado nessa tradicional peregrinação.

O blog Gaiola da LOka mudou de nome, chama-se agora As Metamorfoses de Psiquê e esclareceu um problema de identidade, já que alguns leitores pensavam que a LOka era homem. É o meu mais novo blog favorito. Não podia ficar sem ler alguém desbocada e de constante mau-humor, agora que a Gabi acabou com o Pega na Grandona e ainda não montou seu blog novo.

André Kenji, arguto observador da realidade paulistana, está fazendo uma série de posts instigantes sobre a atual escalada de violência.

O blog do jornalista Alon Feuerwerker vem se consolidando como o melhor blog de notícias e análise política do país. Alon, ex-Folha de S. Paulo, hoje no Correio Braziliense, imprime um tom sóbrio, faz correlações criativas entre notícias de fontes diversas, e demonstra um sólido embasamento em história e ciência política.

por Marcus Pessoa, às 01:24 -

18 de maio de 2006

A polícia está matando gente inocente

[atualizado] Não que seja defensável matar criminosos, mas a gente sabe como funcionam esses "arrastões", como o que a polícia de São Paulo está fazendo na periferia da cidade. Qualquer pessoa que pareça "suspeito" é passível de ser assassinado, mesmo que não tenha nada a ver com a história.

Acabou o terror da classe média. Começou o da classe pobre.

O blog do Ferrez publica depoimento desesperado:

"Atenção a todos os amigos. Apelo a todos que acompanham esse blog, que nos ajudem a dizimar o que está acontecendo. A Polícia Militar e a Polícia Civil, afetadas com a onda de matança, estão fazendo da nossa periferia um estado pra lá de nazista, já são mais de 100 "suspeitos" assassinados, e nenhum deles é PCC.

Só de colegas, foram mortos 4, isso pra não contar os que estão no hospital. Nenhum deles tinha passagem, por isso apelo para que divulguem a real de que o acordo não foi feito com o povo, o povo tá morrendo, sendo baleado pelas costas, ao entregar pizza, ao voltar para casa.

A polícia covarde, treme perante o olhar do ladrão, mas mata sem dó quem está simplesmente voltando para casa. Isso é uma vergonha, e se é o trabalho deles, tá na hora da gente fazer o nosso, reagir com cidadania, mostrando que não queremos essa matança. Lei marcial para pobres inocentes foi decretada".

[update] Comentário do André na caixa desse post:

Um conhecido de uma colega do trabalho morreu na madrugada de anteontem, morto pela polícia. Ele não tinha qualquer tipo de ficha policial ou envolvimento com a criminalidade, e segundo informações de familiares, estava apenas jogando bilhar num bar da periferia, no bairro do Capão Redondo.

[update 2] A Vanessa indicou essa excelente entrevista do Ferrez na Agência Carta Maior.

Que uma grande parte dos comentários dos leitores do site, que é claramente de esquerda, defenda a matança cometida pela polícia, é mais um aviso pra não ter fé na humanidade.

Ou então, a entrevista chegou a ser linkada na home do UOL, atraindo a atenção das pessoas comuns e sua burrice espalhafatosa.

por Marcus Pessoa, às 15:06 -

17 de maio de 2006

Muita calma nessa hora

[atualizado] A essa altura ninguém tem dúvidas de que o governo paulista negociou com o PCC o fim dos ataques terroristas, né?

Mas evitemos um moralismo indignado de ocasião. A revelação é chocante, mas, pensando no que realmente interessa, o bem-estar da população: o que teria sido pior, uma negociação com um grupo terrorista ou uma semana inteira de mortes, caos e desorganização na maior cidade do país?

Não me sinto em condições de crucificar o governo especificamente por essa decisão. Acho deplorável, sim, que eles mintam, falem grosso em público, "não negocio com bandido", e depois afinem entre quatro paredes. Também não tiro sua responsabilidade por não conseguir isolar os chefes da quadrilha de seus liderados. Mas, numa situação de clara inferioridade, foi uma decisão perfeitamente defensável.

Se o governador viesse a público dizer que negociou, sim, e que as concessões foram tão pequenas (TVs em áreas públicas dos presídios, troca da cor dos uniformes) que valeram a pena, teria o meu respeito. Infelizmente ele nunca fará isso, mesmo não tendo projeto político próprio. Prevalece entre a população o discurso dos vendilhões do ódio, que vê como única saída para a criminalidade o incremento da espiral de violência. A direita à qual se filia o PFL do governador Lembo, aliás, participa desse jogo.

O que também é deplorável é o revide que a polícia está dando, assassinando dezenas de suspeitos de envolvimento com o PCC. Infelizmente, essa ação criminosa da polícia (que assim se iguala aos bandidos que combate) receberá aprovação da população. Não adianta dizer que a polícia tem que agir dentro da lei. Não adianta mostrar as estatísticas de Caco Barcellos, de que dois terços dos mortos pela polícia não têm antecedentes criminais. Para a maioria das pessoas, o policial "sabe quem é bandido", e tem todo o direito de ser juiz, promotor e carrasco num processo que dura alguns segundos...

[update] A Olivia definiu bem as coisas: "tudo volta ao normal enquanto for isso que a gente costuma chamar de normal".

[update 2] O blog Nova Corja publicou um relato que permite inferir que o número de suspeitos do PCC que a polícia está matando é bem maior do que o divulgado oficialmente.

[update 3] O ministro Tarso Genro talvez quisesse superar o governador Cláudio Lembo em declarações infelizes, quando partidarizou a questão e responsabilizou Geraldo Alckmin pela onda de violência. Também disse que "o governo do senhor Alckmin (sic) parece que preferiu negociar com criminosos a aceitar a ajuda do governo".

Esse jogo de empurra é um ultraje à população que sofre com a falta de segurança. Por mais que o candidato do PSDB tenha feito ontem cobranças ao governo federal, o tom foi comedido. Caberia ao governo responder de forma institucional, explicando-se, em vez de se portar como se estivesse numa assembléia estudantil.

por Marcus Pessoa, às 02:16 -

14 de maio de 2006

A Colômbia é aqui

A onda de atentados contra agentes da lei em São Paulo, organizada pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) e com 52 mortos até o momento, é apenas mais um degrau na escalada de enfrentamento direto ao Estado por parte do crime organizado. Há algum tempo houve ataque com granadas ao prédio da prefeitura do Rio de Janeiro.

Em São Paulo a situação é mais complexa, pois temos um governo que teoricamente está fazendo tudo o que pode para conter a quadrilha, implantando regimes especiais de prisão, construindo presídios de segurança máxima, etc. Mas é o tal negócio: o que interessa para nós, cidadãos, não é o esforço, mas o resultado.

Aparentemente, falta inteligência ao sistema de segurança: se o isolamento dos líderes é para impedir que eles chefiem as quadrilhas de dentro da cadeia, como é que eles conseguem coordenar dezenas de ações simultâneas? 64 presídios rebelados ao mesmo tempo! É mais que o dobro da rebelião de 2001, que parou 28 unidades e mostrou a força do PCC.

Só falar grosso não adianta nada. A Folha de S. Paulo resgatou declaração de 2002 do chefe do Deic (Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado) que mostra a empulhação:

"O PCC é uma organização falida. Se o PCC tinha uma boca cheia de dentes, agora tem um dentinho ali e outro lá. Não morde mais ninguém".

Parece que um bom dentista cuidou dessa boca banguela. Ou então (o mais provável) o governo paulista minimizou propositalmente a ameaça, com intenções políticas. Aliás, intenções políticas é que não vão faltar nas análises sobre o fato. Apoiadores de Geraldo Alckmin, incapazes de admitir o fracasso de sua política de segurança pública, já começaram a fazer uma relação entre o PCC e o PT (!).

Reinaldo Azevedo, o surtado blogueiro-editor da revista Primeira Leitura, já tinha insinuado que as rebeliões em presídios no mês de março eram parte de uma estratégia petista. Hoje foi bem mais explícito, ao dizer que "o único ângulo razoável para analisar as ações do PCC em São Paulo é o político-eleitoral". O blog de Nemerson Lavoura faz uma pergunta que diz tudo: o PCC é petista?

No meu tempo, isso se chamava "mudar de assunto".

por Marcus Pessoa, às 19:05 -

13 de maio de 2006

Mãos para o céu

Não pretendo fazer desse blog um museu dos anos 80, mas não podia deixar de falar do Heaven 17, clássico trio de synthpop, contemporâneo de Depeche Mode, Eurythmics e Soft Cell, e que lançou um discão no final do ano passado, Before After.

Só fui escutar agora, até pelo fato de ele ter sido amplamente ignorado, a não ser pela imprensa especializada em dance music.

O Heaven 17 formou-se a partir de uma dissidência do Human League e fez sucesso durante um curto período dos 80. Dissolveu-se, voltou várias vezes, e agora lançou o primeiro disco de inéditas em quase dez anos. Não há sombra de saudosismo, e o trio atualiza de forma brilhante sua mistura de sintetizadores com soul e discoteca.

Sim, é pop dançante para as pistas, feito com paixão e canções de verdade. Que artistas que fazem mistura análoga (Fatboy Slim, LCD Soundsystem, Daft Punk) dominem as paradas, e os pioneiros sejam desprezados quando lançam um de seus melhores discos, é pra mim um mistério.

Don't Fear the Reaper
(Heaven 17)

por Marcus Pessoa, às 02:43 -

11 de maio de 2006

Google Trends

O Google lançou ontem um serviço sensacional. O Google Trends permite uma análise da popularidade de palavras-chaves nas buscas e notícias ao longo do tempo, de 2004 até agora.

Um gráfico mostra a curva de cada palavra-chave, o que permite identificar claramente os picos da popularidade de determinado assunto, e o melhor: é possível criar gráficos comparativos entre palavras-chave diferentes!

Uma comparação interessante é entre Britney Spears e Madonna: Britney teve seu maior pico de buscas quando anunciou sua gravidez. Madonna estava meio esquecida, mas três fatos a colocaram no mesmo patamar de sua rival: seu disco novo (maior pico), sua performance no Grammy e o anúncio de sua turnê mundial.

Note-se que há uma diferença grande entre as buscas do grande público e as notícias na imprensa: naquelas, Britney fica em grande vantagem a maior parte do tempo, mas na imprensa a participação delas é equivalente, com pequena vantagem para a esposa de Guy Richie.

Outra pesquisa reveladora é a de Tom Cruise e Katie Holmes. As buscas por Katie dão um salto vertical quando é noticiado o namoro entre os dois, e há outros picos quando o affair é confirmado oficialmente e quando é anunciada a gravidez do casal.

Nessa pesquisa também há um descompasso entre as buscas do público e as notícias. Quando o namoro é apenas boato, já existe um aumento grande nas buscas, mas não tanto nas notícias da imprensa. As curvas de ambos os índices só convergem quando do anúncio oficial. Conclusão: a imprensa não é suficientemente sensacionalista! O público é ainda mais interessado na vida pessoal das celebridades do que se pensava.

No caso brasileiro, uma pesquisa entre Lula e Alckmin põe, é claro, o presidente em vantagem, com um pico para Alckmin na época do lançamento oficial de sua pré-candidatura. O que é interessante é que apenas em São Paulo, Rio, Brasília e Curitiba a minoria dos que buscam Alckmin é expressiva. Nas demais capitais o interesse por ele é mínimo.

por Marcus Pessoa, às 14:43 -

7 de maio de 2006

Bombinha

A tal "entrevista bomba" de Silvio Pereira, ex-secretário-geral do PT, revelou-se uma bombinha de São João.

Jorge Bastos Moreno avisou na véspera que haveria uma entrevista com alguém importante da República, e eu fiquei esperançoso que se jogasse alguma luz sobre o esquema do mensalão. Mas o fato é que, fora uma ou outra afirmação genérica, não existe nada que Silvio Pereira tenha dito que já não seja de conhecimento público.

As afirmações são extremamente confusas. Não fica claro se era Marcos Valério ou o PT que pretendiam arrecadar o tal um bilhão de reais, ou se eles se associaram para isso. Não é explicado de que forma o PT pretendia ressarcir a Valério os muitos milhões emprestados. Tudo o que podemos inferir é o que já se sabia, que Valério pretendia uma ação do Banco Central em favor dos interesses de seus clientes, que lhe pagariam uma gorda comissão. Ele adiantou parte da comissão para o PT e ficou no mico, pois o BC não aceitou as pressões.

O descontrole emocional de Silvinho é evidente, mas, por outro lado, a narração detalhada da crise nervosa que teve diante da repórter parece destinada mais a "esquentar" a matéria, mostrando alguém que teria inimigos dispostos a matá-lo em função das "revelações". E também para falar de supostos documentos que seriam entregues à repórter e foram depois retidos.

Bem, a oposição já tem um novo mantra pra repetir: "um bilhão, um bilhão, um bilhão". Vão cometer novos erros de julgamento, e talvez até tentar um impeachment inviável, sob o pretexto de que Silvinho confirmou que Lula sabia das tramóias (não, ele não afirmou isso).

O que fica disso é o apetite da imprensa por escândalos artificiais, e o fascínio pela figura do "delator de dentro do esquema". Esse tipo de personagem é alguém que desperta nossos instintos mais primitivos...

por Marcus Pessoa, às 12:59 -

6 de maio de 2006

The Upper Room

Acompanho a trajetória dessa banda inglesa desde o ano passado, quando era apenas mais uma entre tantas no MySpace. As demos iam sendo mostradas aos poucos, e eram promissoras. Lançaram dois singles impecáveis, e no dia 26 de maio chega às lojas seu excelente disco de estréia, Other People's Problems.

The Upper Room faz power pop: melodias ganchudas, guitarras limpas e a voz doce de Alex Miller. Algumas músicas têm uma ambiência quase épica; outras são melancólicas por trás dos arranjos alegrinhos. Tudo nos cânones pop; não vão mudar o mundo, mas emocionam.

Tem uma ou outra coisa chatinha no meio, que lembra Coldplay ou Keane. Mas dá pra relevar, afinal, não é qualquer um que faz músicas que a gente, sem se dar conta, já está assobiando...

All Over This Town
(The Upper Room)

It's a funny feeling, not really
Comfort me, cos I'm hearing violins
In the streets, friends I meet say
It's all over this town

The way you cheat
The way you lie
The way you want me to die
All over this town

The way you drive through the night
With a gun, me in your sights
All over this town

I'm caught in your headlights
No escape, move too late
And I'm hearing violins, in my head
In my bed
Cause it's all over this town
And that does get around

So many questions, floating around
But for the moment, hide underground

por Marcus Pessoa, às 13:56 -

5 de maio de 2006

Dormindo com o inimigo

Lula e Evo MoralesEstou acompanhando os desdobramentos da decisão boliviana de nacionalizar suas reservas de gás, e pretendia escrever algo quando o panorama estivesse mais claro. No entanto, a reunião de ontem entre os presidentes do Brasil, Argentina, Bolívia e Venezuela foi algo tão esdrúxulo que eu não podia ficar calado.

Deixa eu ver se entendi. A Bolívia deu uma punhalada nas costas da Petrobrás, que tem sido nos últimos 10 anos parceira do governo boliviano, e não uma mera multinacional sanguessuga com tantas outras. A Petrobrás, percebendo que pagar 82% (!) de impostos para ter o direito de explorar as reservas não se sustenta economicamente, anuncia o cancelamento de quaisquer novos investimentos. Aí o nosso presidente vem e desautoriza a empresa, dizendo que "vai continuar investindo na Bolívia dependendo do acordo que tiver".

Lula se porta como um jogador de pôquer que mostre suas cartas antes de começarem as apostas. É claro que existe a possibilidade de um acordo menos anti-econômico para a Petrobrás e que permita algum tipo de continuidade da parceria. Mas também é evidente que ele só será firmado se as concessões se derem durante a negociação, e não antes dela começar. Ninguém senta numa mesa de negociação pra trocar afagos, e chutes na canela por baixo da mesa são quase inevitáveis. O Brasil está recebendo canelada atrás de canelada e o Nosso Guia finge que não vê.

Infelizmente Lula está dando razão a parte das críticas da oposição em relação à política externa. O apoio do Brasil à emergência de um autêntico líder popular e indígena na Bolívia não impediu que o país seja hoje tratado como uma potência imperialista -- isso depois de perdoar parte da dívida boliviana.

Muita gente fala à boca pequena e ainda não saiu com todas as letras nos jornais, mas parece evidente que a nacionalização, tal como se deu, é menos o cumprimento de promessas de campanha e mais uma estratégia milimetricamente planejada não em La Paz, mas a partir de Caracas. Não gosto de parecer paranóico ou alimentar teorias da conspiração, mas aposto que o timing dos fatos foi discutido na reunião que tiveram Evo Morales, Hugo Chávez e Fidel Castro poucos dias antes daquele Primeiro de Maio.

Um passa-fora na Petrobrás depreciará seus ativos na Bolívia a tal ponto que será muito barato para a PDVSA, estatal venezuelana, assumir os negócios no futuro, quando o ato de nacionalização se revelar a furada que é. Ontem mesmo já foram publicados releases daquela estatal, dizendo que apoiará a verticalização da produção de hidrocarbonetos no país de Evo. Hugo Chávez está em guerra fria com Lula pela liderança continental, e tanto faz para ele apoiar um autêntico líder popular (Morales) ou um aventureiro proto-fascista (Olanta Humalla, no Peru) para ampliar o raio de ação de sua empulhação "bolivariana".

Não acredito que o Itamaraty ainda não tenha feito essas análises e alertado o presidente. Se Lula ainda prossegue com os afagos de praxe naqueles que tramam contra os interesses do Brasil, ou está sendo muito burro, ou acha que essa imagem de líder progressista internacional vá lhe trazer algum dividendo eleitoral (o que é burrice também, aliás).

por Marcus Pessoa, às 01:24 -

2 de maio de 2006

Para o alto e avante (III)

Superman

Foi há pouco divulgado o trailer de Superman Returns.

O que se vê é que Lex Luthor terá um papel muito importante no novo filme; que o amor entre Super-Homem e Lois não acabou após o sumiço dele e o casamento dela; e que há um profundo respeito pela mitologia dos filmes originais.

O trailer não entrega muito das cenas de ação. É mais pra dar mais água na boca mesmo.

Para baixar diretamente para o computador, clique aqui com o botão direito do mouse, e após em "salvar atalho como" ou "salvar link como" (21 MB). É necessário o QuickTime para visualizar.

por Marcus Pessoa, às 18:31 -

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