16 de abril de 2005
Sinais de vida inteligente... na Terra
O caso dos círculos nos campos de trigo da Inglaterra é hoje bastante conhecido. Todo mundo já ouviu falar nos estranhos desenhos, com formas complexas e que só podem ser vistas de cima. Talvez por serem muito numerosos -- na casa dos milhares! -- e não terem, a princípio, qualquer explicação, atiçaram a imaginação de muita gente. Alguns os consideram a única evidência física inequívoca da presença de visitantes extraterrestes em nosso planeta.
A alta complexidade dos desenhos e o fato de serem construídos literalmente "da noite para o dia" estimulou essa crença na origem extraterrestre do fenômeno. Chegou-se a falar na existência de radiação nos locais, além de estranhas alterações nas plantas. E os primeiros círculos apareceram próximos a locais de significado místico, como o monumento do Stonehenge.
O que muita gente não sabe é que esse "mistério" já é um segredo de polichinelo há quase 15 anos, desde que os artistas ingleses Doug Bower e Dave Chorley confessaram ser os autores de centenas de círculos em diversas plantações de cereais do país, desde os anos 70. Chegaram a deixar suas iniciais ("DD") em alguns deles.
Após a revelação, foram acusados de fazer parte de uma fraude destinada a esconder a verdadeira origem dos círculos, mas o fato é que é mais do que plausível que os desenhos tenham sido feitos por seres humanos.
Se foram realmente eles que fizeram os primeiros círculos, não importa: a cada ano aumenta o número de episódios, o que quer dizer mais gente aderindo ao que está sendo chamado de um grande fenômeno artístico-cultural. A complexidade dos desenhos também é maior a cada ano, pelo aprimoramento do know-how de sua fabricação.
Alguns criadores de círculos agem abertamente, como os Circle Makers, que mostram didaticamente como criar desenhos incrivelmente elaborados em poucas horas.
O assunto voltou à moda com o filme de M. Night Shyamalan, Sinais, que, como bom produto hollywoodiano, foi procurar uma explicação fantasiosa para o fenômeno. O problema é que algumas pessoas parecem não distinguir a ficção da realidade...
Não vou ficar aqui debatendo a autoria dos círculos. Isso é o mesmo que discutir com criacionistas -- dá um trabalho danado e você sente que perdeu seu tempo. Mas numa coisa eu concordo com os teóricos da conspiração: esses desenhos são resultado de vida inteligente sim! Mas na Terra...
Essas ações de seres humanos semeando a dúvida e questionando a credulidade das pessoas são, claramente, uma forma de arte contemporânea. Ao contrário de alguns de seus congêneres, que põem vacas em fatias nos museus, ou fazem esculturas em sangue congelado, estes artistas não só cumprem seu papel de intervir criticamente na realidade como também se preocupam com a beleza de seu trabalho -- o que, estranhamente, há algum tempo não é considerado algo essencial na arte.
E a "intervenção" tem bastante humor também: quando alguns estudiosos do fenômeno propunham explicações esdrúxulas como a de um "vórtice plasmático eletromagnético" (!?!), os criadores prontamente faziam outro círculo que desmontava a explicação! Que bom que ainda existem exemplos de arte contemporânea que não são só masturbação intelectual...
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Esse sumiço de dois meses, por absoluta falta de tempo e excesso de trabalho, serviu pra repensar a "pauta" do blog, que estava muito pro lado da política. Estou de saco cheio de certos "debates", vocês sabem com quem...
Dei uma mudada no layout pra espanar o pó, gostaram? Coloquei os favoritos em ordem alfabética -- é uma "escolha de Sofia" tentar ordenar pelos mais visitados. Ah, sim: o blog fez um ano no início do mês e eu nem lembrei!
Quero agradecer ao Ismael, à Leila, ao Ricky, ao Rafael e ao Idelber, que cobraram o meu retorno à atividade. Espero não ter esquecido ninguém. Abração a todos!
por Marcus Pessoa, às 17:31 -