Velho do Farol

Porque sim.

Velho do Farol

27 de setembro de 2006

Declaração de voto


(este artigo é dedicado à Mary)

[atualizado] Senti-me na obrigação de declarar meu voto para a reeleição de nosso eneadáctilo presidente. No momento em que a lambança de Berzoini e cia. abre nova temporada de martelagem da idéia mentirosa de que "este é o governo mais corrupto da história", é preciso tomar partido. E não é, claro, pelo armagedon prometido pelo Mingau de Chuchu.

Lula não é nem de longe o presidente dos meus sonhos. Já demonstrou que não tem lá muito espírito republicano, e agora deu pra investir numa imagem de "pai dos pobres" que é uma caricatura de Getúlio. E ele não é Getúlio, que com todos os seus defeitos mudou a cara do país. Lula é uma decepção, afinal, como ele mesmo disse, "não tinha direito de errar", e errou, muito.

Mas eu rejeito a lógica binária, o preto no branco. A decepção é grande porque esperávamos muito dele. No entanto, o governo é de razoável pra bom, dá pra passar de ano, embora talvez fique de recuperação (segundo turno). Preciso citar os dados? Crescimento de emprego e renda, principalmente dos mais pobres, diminuição drástica da miséria absoluta, inclusão de milhares de jovens de baixa renda no ensino superior, competente gestão macroeconômica (diminuição do crescimento da dívida, recorde na balança comercial), combate implacável à corrupção.

"Combate à corrupção, como assim?" Bem, já falei o que penso do mensalão neste artigo no Bombordo. É um escândalo localizado, cujo montante desviado é pequeno comparado aos demais, e que pela posição proeminente dos petistas envolvidos tomou uma dimensão que não tem, e não reflete a posição institucional do governo.

A corrupção existe em qualquer governo do mundo, e reconhecer isso não é capitular à sua existência. O Estado brasileiro é uma máquina imensa, tem muitos operadores de baixo escalão, e a corrupção é endêmica há muito tempo.

O principal é saber se o governo toma providências contra ela. E sobre isso, posso citar a carta branca que Paulo Lacerda ganhou para que a Polícia Federal investigasse todo e qualquer esquema de corrupção no governo, mesmo envolvendo aliados do presidente. O atual Procurador-Geral da República tem uma atuação independente, não é um engavetador-geral como Geraldo Brindeiro, indicado por Fernando Henrique. E posso também falar do ótimo trabalho de Waldir Pires na Controladoria Geral da União, que investiu na transparência dos gastos governamentais.

Então, antes de virem com patacoadas do estilo "os lulistas desculpam a corrupção", leiam estes argumentos, tá? Eu sei que a novela dos escândalos na TV é palpitante, mas também é pulp fiction da pior qualidade. Não é por aí que vai se entender o Brasil.

O que eu vejo, agora, é que muitos amigos progressistas ou de esquerda, que iam votar nulo ou em Cristovam Buarque, estão reavaliando suas posições e devem votar no molusco mesmo. Eu também já flertei com ambos os votos, e sei que Cristovam é uma pessoa de bem, mas é muito fácil pra nós, intelectualóides em escritórios refrigerados, dizer "não vou me misturar com isso", criticar Paulo Betti e cia., e na prática abdicar de ter voz ativa nos destinos do país. Sim, porque votar nulo ou em Cristovam é deixar de votar no menos pior e permitir que o muito pior vença.

Essa eleição tem um caráter plebiscitário e a direita já percebeu isso, seu discurso é "Alckmin ou o caos". E o plebiscito nem é sobre o governo Lula, mas sobre concepções diferentes de governar.

Ignorem as teorias conspiratórias sobre Opus Dei e etc e se concentrem no principal, o que efetivamente Alckmin faria se fosse eleito. Os sinais são claros: desmonte do Estado ("forte ajuste fiscal"), criminalização dos movimentos sociais, fascismo penal ("leis mais duras"), subserviência aos interesses dos Estados Unidos ("acordos bilaterais"), e uma gestão macroeconômica entregue na mão dos tecnocratas que quebraram o Brasil no governo Fernando Henrique. Dêem como certas, reformas previdenciária e trabalhista duríssimas, menor combate à miséria, volta da penúria nos orçamentos nas universidades federais, etc. Alckmin é a direita da direita.

Por isso, achei que deveria me posicionar assim, publicamente, sob o risco de ser carimbado de "petista" (o que deixei de ser há mais de dez anos, quando me desfiliei). O mundo está em transformação, e o Muro de Berlim caiu sobre um monte de certezas que tínhamos. Mas eu não fiz como certos porra-loucas que passaram da ultra-esquerda para a ultra-direita, sem escalas. Eu ainda acho que o país tem jeito, e não é com o Plano Armagedon que lhe é apresentado pela oposição.

PS: sobre o fascismo penal, leiam este este artigo de André Kenji, sobre o tenebroso Secretário de Segurança Pública de São Paulo

PS 2: após o "debate" da Rede Globo, fico cada vez mais convencido de que votar em Cristovam Buarque é votar em Geraldo Alckmin, não há diferença alguma. O senador do PDT foi de uma sabujice incrível, praticamente fazendo jogo de equipe com o ex-governador tucano. Aparentemente, ele está cavando uma vaga de ministro numa possível equipe do Chuchu.

Não tenho como dizer o mesmo de Heloísa Helena, que, apesar de toda a deficiência de seu programa, mostrou-se igualmente crítica ao PT e ao PSDB. Só me resta respeitar a sua candidatura, apesar de, em outros momentos, ela ter dado a impressão de mimetizar o discurso pseudo-moralista da oposição de direita.

por Marcus Pessoa, às 04:23 -

26 de setembro de 2006

O outono de Sam


The Killers fizeram, na minha opinião, o melhor disco de 2004. Hot Fuss colocou de volta ao topo o power rock estiloso, com um pé na pista de dança e uma impressionante massa sonora de teclados e guitarras. Rock "tela grande", pra ouvir bem alto.

Mas parece que o sucesso e o reconhecimento subiram à cabeça da banda. Brandon Flowers foi convidado pra fazer dueto com a Besta de Óculos Escuros e deve ter se achado muito importante. Começou a distribuir críticas e conselhos para seus colegas de profissão, via imprensa. A última foi dizer que tipo de música Thom Yorke (!) deveria escrever.

No dia em que o Brandon fizer um disco que sequer se aproxime de The Bends, eu até escuto o que ele tem a dizer sobre o estado das coisas do rock...

Sam's Town, muito antes de ser lançado, já se mostrava como um projeto milimetricamente planejado para emular a "descoberta da América profunda" feita pelo U2 no excepcional The Joshua Tree. Não que os discos sejam parecidos, mas o "conceito" é idêntico. Brandon deu uma longa entrevista ao site da MTV tecendo loas a Bruce Springsteen e a uma América escondida nos desvãos de seu imenso território.

O vídeo da primeira música de trabalho, When You Were Young, mostra os Killers num vilarejo pobre da fronteira com o México, de barba e cabelos desgrenhados. Mas não se enganem, amigos, as barbas e cabelos fora de moda não são fruto de desleixo, e devem ter sido criados por competentes hair stylists. Eles não são mais apenas quatro rapazes de Las Vegas, eles querem fazer "arte".

O resultado é que... o disco é bem chatinho, comparado ao primeiro. When You Were Young é ótima, uma das melhores músicas do ano, mas o resto é decepcionante. The Killers encaretaram; não vejo aquele frescor, aquele descompromisso, e o flerte com a dance music e a androginia que havia no primeiro. Sim, o disco é completamente focado nos anos 80, lembra nitidamente U2, Simple Minds, Duran Duran, etc, mas é sério, carrancudo, quer passar uma "mensagem". E não tem canções à altura do que se espera deles.

Julguem por si mesmos. O engraçado é que a segunda melhor música, Where the White Boys Dance, está disponível só na edição japonesa e como lado B do single em vinil (!) da faixa de trabalho. Vai entender.

When You Were Young
(The Killers)

You sit there in your heartache
Waiting on some beautiful boy
To save you from your old ways
You play forgiveness
Watch it now, here he comes

He doesn't look a thing like Jesus
But he talks like a gentleman
Like you imagined when you were young

Can we climb this mountain? I don't know
Higher now than ever before
I know we can make it if we take it slow
Let's take it easy
Easy now, watch it go

We're burning down the highway skyline
On the back of a hurricane
That started turning when you were young

And sometimes you close your eyes
And see the place where you used to live
When you were young

They say the devil's water, it ain't so sweet
You don't have to drink right now
But you can dip your feet
Every once in a little while

por Marcus Pessoa, às 14:26 -

25 de setembro de 2006

O bardo de volta


[atualizado] Taí uma boa surpresa. O cantor e compositor irlandês Damien Rice já gravou, na surdina, o seu segundo álbum, intitulado simplesmente 9 e com lançamento marcado para 6 de novembro. A primeira faixa de trabalho é 9 Crimes, uma balada ao piano em dueto com sua tradicional parceira, Lisa Hannigan (que também canta no mega-sucesso The Blower's Daughter). Confiram, é bonita.

9 Crimes
(Damien Rice)

O primeiro disco, O, me marcou profundamente, e aconteceu com essa música (Blower's Daughter) algo semelhante ao que narrei em relação ao comercial do Carlinhos: certo dia comecei a escutá-la na TV, e quando fui ver, era o comercial de Closer, filme que arremessou o artista para o estrelato mundial. O fato da música constar na trilha foi um motivo adicional para eu ver esse filme, que foi escolhido o melhor de 2005 pelos leitores do Globo Online.

Como se sabe, a música ganhou duas constrangedoras versões em português, a cargo de Simone e da dupla Ana Carolina e Seu Jorge, e foi parar na novela das oito.

Quando outra música do mesmo disco (a linda Cannonball) tocou algumas vezes no início de Páginas da Vida (era o tema do romance da falecida em Amsterdam), houve grande revolta em parte dos integrantes da comunidade dedicada ao artista no Orkut. Reclamaram da "banalização" e do fato do artista estar virando "modinha" (esta palavra é doce na boca de indie-chatos).

O que é engraçado é que quase todos os reclamões conheceram Damien Rice através de Closer ou da série de TV, Lost, que também incluiu a música na trilha. Cultura de massa do mesmo jeito. Mas um misto de síndrome do underground e arrogância classe-média os faz pensar que são melhores que os simples mortais que vêem novela.

Nem sei por que eu tô falando disso. Esse pessoal não merece atenção. Vamos aguardar o álbum, que promete. O álbum não decepciona, confiram.

por Marcus Pessoa, às 06:25 -

23 de setembro de 2006

Utilidade pública

Seus amigos intelectualóides citam autores que você não leu? Quer aprender a ser pernóstico como eles? Está cansado de ler longas orelhas de livros pra fingir que é erudito?

Seus problemas acabaram! Nós do Botequim Socialista Inc. criamos para o seu conforto os micro-resumos de clássicos da literatura, filosofia e política. Quem precisa da Wikipedia ou do Google? Feche esse livro e vá ver TV!

Micro-resumos pra quem não gosta de ler

Bocaccio - Decameron
Dez jovens se reúnem num palacete pra fugir da peste. Todo mundo fala muito, mas ninguém come ninguém!

Chordelos de Laclos - As Relações Perigosas
Conde safado seduz mocinha com ajuda de condessa mais safada ainda. Depois descobre que estava cansado da safadeza, mas aí Inês é morta. Fim.

Saramago - Ensaio sobre a Cegueira
Epidemia de cegueira mostra a verdadeira face do ser humano. Como só uma moça não ficou cega, ela foi a única que viu. Fim.

Clarice Lispector - O Livro dos Prazeres
Mulher passa a história inteira na maior piração pra decidir se dá ou não.

Salinger - O Apanhador no Campo de Centeio
Sou um adolescente incompreendido, vou fugir por uns dias para ver se chamo a atenção de alguém. Fim.

Platão - Apologia de Sócrates
"Só sei que nada sei, e vocês, manés, sabem menos ainda!" Fim.

Goethe - Os Sofrimentos do Jovem Werther
Ninguém me ama, ninguém me quer, ninguém me chama de meu amor! Adeus!

Émile Zola - Germinal
Mineiro só se fode. Fim.

Adolf Hitler - Mein Kampf
Minha vida de emo.

Maria José Dupré - Éramos Seis
Cinco, quatro, três, dois, um!

Karl Marx - O Capital
Existe a burguesia, essa malvadona. Existe o proletariado, explorado pela burguesia malvadona. Fim.

Nietzsche - Ecce Homo
Filósofo maluco diz que é o fodão. Fim.

Obras completas de Charles Bukowski
Malucão bebe todas, come um monte de mulé e vive entrando em cana. Fim.

Dostoievski - Os Irmãos Karamazov
Quero que meu irmão se dane! Fim.

Gogol - O Inspetor Geral
O sr. sabe com quem está falando?

Maquiavel - O Príncipe
"Magnífico Lourenço de Médicis, eu conheço o esquema, me arranja um emprego aí vai!"

por Marcus Pessoa, às 04:46 -

22 de setembro de 2006

Quem sabe, canções de amor


Quando o Dr. Watson conhece Sherlock Holmes, descobre que o detetive tem conhecimento zero em astronomia. Após saber os nomes dos planetas do sistema solar, Holmes responde: "agradeço, mas agora farei o possível para esquecer disso imediatamente".

Eu que gosto de fuçar novas bandas de rock, adoto essa estratégia de amnésia seletiva. O cérebro não processa tanta informação despejada diariamente. O disco é apenas interessante, mas não emocionou? Tchau.

Por isso, em vez de apresentar mais uma das salvações do rock de sempre, prefiro falar de novo de The Upper Room, a melhor banda desconhecida da atualidade.

Mesmo entre os blogueiros há pouca gente que os cite. E no entanto, há tempos eu não escutava um disco que perseguisse com tanto afinco o pop perfeito, e chegasse tão próximo dele. Other People's Problems, o trabalho de estréia, é uma coleção de belas canções de amor, cada uma, um single em potencial.

Eu fico pensando... nos Smiths, pois é. Johnny Marr estava pouco se lixando em ser revolucionário, queria apenas alcançar o acorde certo na hora certa. The Upper Room também, tanto que se define em seu site oficial como "quatro jovens de Brighton com uma missão muito simples: criar álbums clássicos, as mais puras canções pop, e roubar seus corações".

Deste coração velho de guerra, eles já tomaram posse.

(clique no título para ouvir)

The Centre
(The Upper Room)

On the last day of the year
In the garden, very clear, but what I fear
Is that I'm losing what I held dear
But my goal is nothing at all

They said it's pathetic
But I won't forget it

She was the centre
You're taking me
Towards the centre of my old life

Take an issue or a truth
Go and shout it from the roof
People call it self-abuse
But my goal is nothing at all

They said it's pathetic
But I won't forget it

She was the centre
You're taking me
Towards the centre of my old life

(Don't talk about it)

por Marcus Pessoa, às 01:21 -

19 de setembro de 2006

Blogolândia no divã

Paulo Polzonoff encerrou mais uma vez as atividades de seu blog (tá parece aquelas turnês de despedida dos Ramones, todo ano tinha uma). Até aí tudo bem, o que me deixou um pouco chocado foram algumas das justificativas:

Os blogs, por conseqüência, também se vulgarizaram. No começo éramos uma espécie de casta. Todo mundo conhecia todo mundo. Havia uma comunidade, por assim dizer. Depois os blogs incharam. Todos diziam (dizem) a mesma coisa. Simplesmente não vejo motivo para ser mais um na multidão.

Carlos Cardoso, do Contraditorium, respondeu com tanta precisão que basta citar e assinar embaixo:

Você se destacou, você foi uma referência. Será que não ser a ÚNICA referência é o problema? Eu entendo o conceito de Onipotência (ao menos como aspiração) mas será que podemos nos dar ao luxo de sermos um Deus Bíblico, ciumento e vingativo? Os tempos são outros, o panteão aumentou, temos que conviver com adoradores dividindo sua fé entre nós e outras divindades, meu caro.

Polzonoff é um grande cara, mas eu acho triste que parte da primeira geração de blogueiros esteja desistindo porque "todo mundo tem um blog" (César Miranda, com quem eu não concordo em nada mas acho brilhante, também falou algo parecido em sua crônica de despedida).

Fica parecendo os fãs daquela banda de rock obscura que deixam de gostar dela quando começa a tocar no rádio.

Acho bem mais simpático quando Denise Arcoverde diz que todos podem ter um blog, e demole os falsos motivos que as pessoas apresentam para não tê-lo:

1. "Não tenho nada pra falar". Duvido. Todo mundo tem algo a dizer, basta botar um microfone ou um blog nas suas mãos e sempre tem quem pára pra ler. Precisa ter persistência, paciência, não escrever pensando em ter público e, aos poucos, ir formando sua rede de amizades.

Essa é uma das visões da coisa, e a blogolândia é a imagem da diversidade.

por Marcus Pessoa, às 15:50 -

The day after

[atualizado] Ontem foi o dia mais quente da campanha eleitoral. Quero apenas alinhavar algumas questões, e já já viro o disco, tá?

a) a sensação que eu tive às 12:20 de ontem, de que a história toda estava estranha demais da conta, foi compartilhada por um monte de gente, e o questionamento da veracidade das acusações foi tema de várias matérias em blogs e sites jornalísticos.

b) alguns amigos reclamaram da extensa reportagem de ontem do Jornal Nacional, que estaria tentando jogar a opinião pública contra o PT. Bem, eu achei estranho que só agora William Bonner tenha se dignado a contar a história desde o início, mas acho natural o tom usado, afinal, tanto o acusador (Gedimar Passos) quanto o acusado (Freud Godoy) são (ou eram) funcionários do comitê nacional de Lula, segundo o próprio coordenador da campanha, Ricardo Berzoini.

Aliás, eu achei fraquíssima a intervenção deste no JN, e só depois fiquei sabendo que ele deu chá de cadeira nos repórteres e não queria falar. O comando petista dá a impressão de estar completamente desnorteado.

c) Ricardo Noblat (em nota de ontem à noite em seu blog) e Ricardo Amaral (em matéria da Reuters) publicaram informações de bastidores desencontradas: enquanto Noblat afirma que o Ministro da Justiça já sabe que Godoy efetivamente participou da operação, Amaral aponta para a responsabilidade de Jorge Lorenzetti, amigo de Lula e chefe de Gedimar.

d) Sergio Leo publicou em seu blog pessoal informação transmitida em off por alguém que conhece o interior do PT:

Esse Freud é o cara da Abin do PT. Da informação e contra informação. Já era em 1994, mas naquela altura a função era desarmar bombas contra o Lula. Agora expandiu as funções.

Aguardem emoções fortes nos próximos capítulos da novela...

Queimei a língua

A revista Época informou através de seu blog (sem permalinks) que foi procurada por um ex-secretário do Ministério do Trabalho, atualmente na coordenação de campanha de reeleição, oferecendo um dossiê contra José Serra.

Aparentemente Ricardo Amaral tinha razão, pois Jorge Lorenzetti, citado na matéria da Reuters, estava presente à reunião.

É, minha carreira de Cassandra durou menos de dois dias. Acho que não tenho jeito pra isso.

Ainda resta saber até que ponto o alto escalão da campanha está envolvido no episódio. Mas dá cada vez menos vontade de escrever sobre o assunto...

por Marcus Pessoa, às 14:10 -

18 de setembro de 2006

Hummm...

Freud Godoy[atualizado às 19:25] Quando estourou o caso do Dossiê Verdoin, eu comentava com amigos da incrível despreparo do PT paulista, que, ao que tudo indicava, planejara comprar o material contra José Serra, e com a descoberta do golpe se desmoralizou ainda mais.

Hoje o caso, que já estava uma novela de emoções palpitantes, alcançou um novo ápice, com a revelação de que um dos suspeitos da compra do material é Freud Godoy (foto), segurança pessoal do presidente Lula há 14 anos e homem de confiança dele.

Meu desconfiômetro apitou no mesmo instante. Isso está parecido demais com o Caso Tonelero pra passar despercebido. Algumas considerações:

a) o dossiê não tem valor, não é prova nenhuma de qualquer acusação que se possa fazer contra José Serra. Não vale 2 e muito menos 20 milhões de reais. Quem é que pagaria por um dossiê desses?

b) os dois intermediários presos pela Polícia Federal são, sim, ligados ao PT, mas essa ligação é recente, e são o tipo de gente que se agregou ao partido em tempos de mensalão: mais interessados na relação com pessoas influentes do que no programa partidário.

c) o comitê nacional da campanha de Lula não teria qualquer interesse num dossiê contra Serra. Se a acusação recaísse sobre alguém da executiva estadual paulista, ou do comitê de Aloísio Mercadante, a história seria mais crível.

Posso queimar a língua mais adiante, mas isso está com um cheiro nítido de armação. Ligar Lula a um caso escabroso desse vale, sim, não só os quase dois milhões apreendidos, como mais um tanto que poderia ser oferecido aos dois picaretas para fazerem acusações falsas. Aparentemente, seria a única forma de criar um fato novo que impeça uma vitória no primeiro turno.

Há que se notar que o blog oficioso da candidatura Serra, o de Reinaldo Azevedo, vem há algum tempo ventilando informações de um "passarinho" anônimo sobre denúncias que iriam estourar contra Lula. Hoje, Reinaldo Azevedo apressou-se a lembrar de Gregório Fortunado.

Essa novela está com um roteiro muito previsível. Resta saber se vai ter final feliz. E para quem.

Atualização: jogo dos sete erros

Comentário do André. Quem disse isso?

O senhor Getúlio Vargas, senador, não deve ser candidato à Presidência. Candidato, não deve ser eleito. Eleito, não deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer à revolução para impedi-lo de governar.

E quem disse isso aqui?

Anotem aí: Lula não pode ser reeleito. Se reeleito, vai tomar posse, claro. Mas não termina o mandato. Acontecerá com ele o que aconteceu com Nixon: vai cair por uma besteira feita na reta final da reeleição – se besteiras já não lhe faltassem.

A história só se repete etc etc.

Acareação

Freud Godoy compareceu à sede da Polícia Federal em São Paulo, para prestar esclarecimentos, e foi acareado com o advogado Gedimar Passos, que o tinha acusado de encomendar o dossiê.

Gedimar ficou calado durante os cerca de quinze minutos da acareação. Esse caso está cada vez mais surreal, ou, como disse o presidente do TSE, "psicodélico".

por Marcus Pessoa, às 14:51 -

16 de setembro de 2006

Pato ômega

O no mínimo já foi um site legal. Inspirado no falecido no.com.br, publicava todo dia umas duas ou três matérias interessantes, além de abrigar o ótimo Weblog do Pedro Doria. Foi nas caixas de comentários deste, por exemplo, que eu fiz amizade com a Leila e com o Fernando.

Mas tudo que é bom dura pouco. Uma malta de tipinhos reacionários invadiu as caixas do Pedro, usando nomes falsos e destilando todo tipo de ódio e preconceito, sob uma capa de falsa erudição. Posteriormente, o site se transformou num portal de blogs, o que pareceu "moderno" mas apenas mascarou a falta de investimento em reportagens, que eram o forte da antiga proposta.

O blog Política e Cia. virou veículo oficial da campanha de Geraldo Alckmin, e outros tucanos de vistosa plumagem respondem pelo Ponte Aérea Rio e pelo Nonsense. Apenas Xico Sá contrabalança a história, no Ponte Aérea SP, dando porretadas no senso comum da classe mérdia paulistana.

A pá de cal na credibilidade do site foi esta notinha surreal publicada por Xico Vargas, onde ele narra como verdadeira uma história de assalto em cinemas de um shopping Iguatemi, lenda urbana que percorre as caixas de e-mails brasileiras há anos.

Que o próprio Pedro Doria tenha caído num bem urdido golpe do Cocadaboa (e por isso apelidado de "pato alfa"), é compreensível, afinal Mr. Manson é expert em enganar os outros. O que não dá pra entender é como alguém que trabalha com jornalismo online toma como verdadeira uma notícia velha e mentirosa. É o autêntico pato ômega, enganado depois de todo mundo.

O incompetente desculpou-se depois, alegando que a fonte da notícia "insiste na sua veracidade". Das duas uma: ou isso é mentira e ele não quer reconhecer que não distinguiu uma corrente de e-mails de uma mensagem real, ou é verdade e ele não checa as informações antes de publicar. Em ambos os casos, pega muito mal, e explica por que o "no mínimo" tornou-se pra mim apenas leitura ocasional.

por Marcus Pessoa, às 08:01 -

10 de setembro de 2006

Orkut x MP

O Google emitiu na semana passada sinais que podem parecer contraditórios à primeira vista: enquanto o Google Brasil prossegue em sua batalha jurídica com o Ministério Público de São Paulo, alegando não possuir os dados do Orkut solicitados, a matriz da empresa na Califórnia afirmou ao jornal Washington Post que não se negará a fornecê-los à justiça brasileira.

A matéria do Post não foi citada nos principais jornais brasileiros, e foi interpretada em algumas comunidades do Orkut como uma concessão do gigante norte-americano. Na verdade, o Google está agindo de forma coerente, pois disse que fornecerá os dados sim, desde que eles sejam solicitados à matriz.

Meus parcos conhecimentos jurídicos não me impedem de considerar bastante ineptas, tanto a petição inicial do Ministério Público, quanto a decisão do juiz da 17ª Vara Cível de São Paulo. As alegações são extremamente genéricas, e o MP não provou que o Google não tem colaborado na luta contra os crimes do Orkut. Pelo contrário, o que vejo é o site apagando imediatamente perfis e comunidades com conteúdo pedófilo. Só encontra pedofilia quem procura, e muito.

O venerando Silvio Meira, um dos pioneiros da internet no Brasil, apóia a cruzada do Ministério Público e acha que se trata de uma questão de soberania nacional. Eu não discordo da necessidade de se afirmar as leis do país, mas sim da forma como está sendo feito, que é uma mera chantagem à filial brasileira.

O Yahoo! já impediu a usuários da França o acesso a alguns itens de memorabilia nazista vendidos em seu site de leilões. Recentemente, um jornal norte-americano fez a mesma coisa em relação a uma matéria cujo conteúdo era proibido pela lei britânica.

Tudo muito justo e correto. Se o Ministério Público acha que o Orkut é um site que desrespeita as leis do país, pode solicitar que seu acesso seja impedido aos tupiniquins. Mas é claro que ele não vai fazer isso. Esses promotores da nova geração agem como Torquemadas de olhos muito atentos à opinião pública, e nunca se queimariam assim com o público brasileiro.

Muito mais fácil (e errado) é querer que a justiça brasileira mande nos dados custodiados em território norte-americano.

Tendo em vista o histórico pouco recomendável do Brasil "democrático" no tocante à liberdade de expressão, eu me sinto mais seguro acessando um site sob as asas do Tio Sam do que exposto à sanha persecutória dos juízes daqui.

por Marcus Pessoa, às 19:04 -

O velho ressuscitou

Matei o Velho do Farol no início deste ano, mas agora mudei de idéia e o blog voltou ao nome original. Espero não pegar a mania da Mary W de ficar mudando o nome e a aparência do blog toda semana...

(Hehehehe. Brincadeira, tá Mary?)

Gostaram do novo visual? As letrinhas ficaram pequenas demais? A casa segue o lema de que o cliente sempre tem razão.

por Marcus Pessoa, às 19:03 -

1 de setembro de 2006

Comentando os comentários

O Inagaki passou a moderar previamente os comentários do Pensar Enlouquece, em virtude da condenação em primeira instância do blog Imprensa Marrom, por danos morais. O juiz considerou que o dono do blog tinha responsabilidade pelo comentário anônimo que ofendeu a honra de um terceiro.

A tese é bastante discutível, e tem muita coisa mal contada nessa história. Mas, mesmo que a jurisprudência se mantenha nesse sentido, ainda assim a indenização (R$ 3.500,00) é desproporcional ao suposto dano. Afinal, o comentário foi feito em relação a um post que já tinha seis meses de idade, e retirado quatro dias depois, após o ajuizamento da ação. É bem provável que nenhum leitor do Imprensa Marrom sequer tenha lido o comentário em questão.

Indenizações por danos morais não são para enriquecer o autor da ação, mas para reparar o dano sofrido. Se quase ninguém leu o comentário injurioso (e isso pode ser provado através dos relatórios de visitas do provedor), o dano é próximo de zero, e a indenização não poderia ser de um valor tão alto.

De qualquer forma, entendo a precaução do Inagaki, assim como o exagero de Gravataí Merengue (responsável pelo Imprensa Marrom), que sugeriu aos blogueiros em geral que eliminassem o espaço para comentários.

Assim como o Idelber, quero manifestar solidariedade ao Imprensa Marrom, mas também opinar que podem ser evitados maiores problemas, sem medidas extremas. Basta que o dono do blog tenha um controle mais estrito sobre os comentários publicados.

Desde que este blog existe, uso o HaloScan como serviço de comentários, e sempre os acompanhei através de um feed RSS disponibilizado pela empresa. Mesmo se alguém fizer um comentário em um post lá de 2004, eu fico sabendo imediatamente. No post retrasado, sobre a nova lei de drogas, veio um engraçadinho com nome e e-mail falso fazer apologia à maconha, e teve o comentário apagado imediatamente.

Aprovação prévia de comentários acaba tolhendo a conversa. O mais legal é quando os comentaristas acabam por ficar trocando idéias entre si, e não apenas com o autor do post. Isso fica meio travado com a aprovação prévia. Entendo, é claro, os motivos do Inagaki, que tem um blog muito visitado e provavelmente não tem mais tanto tempo pra dedicar a ele, mas, no meu caso, mesmo nos longos meses em que não postei nada aqui, nunca deixei de acompanhar todos os dias os comentários.

É preciso estar muito atento à questão da liberdade de expressão na internet. A disputa entre Ministério Público e Google, a respeito do Orkut, é um marco disso e definirá muita coisa para o futuro. Mas isso é assunto para outro post.

por Marcus Pessoa, às 14:44 -

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