Velho do Farol

Porque sim.

Velho do Farol

27 de janeiro de 2005

Stalker!

Diogo MainardiEsse post não era pra ser escrito. Essa questão cinema x financiamento é sacal, e eu não gosto muito de falar de política. Mas estou meio abismado com o poder de gente como Diogo Mainardi de influenciar o debate nacional. Fiquei surpreso de como um texto rancoroso, moralista e persecutório pôde ser levado a sério e gerar "debates" na blogosfera. E me surpreendi ainda mais quando comentários tímidos que fiz geraram respostas agressivas, com direito a apelidos engraçadinhos.

Qualquer pessoa normal sabe que Diogo Mainardi não oferece idéias, mas apenas polêmicas. Qualquer um nota que ele tem feito de sua coluna apenas uma tribuna de ataques histéricos a Lula, ao PT e a qualquer um que com eles se identifique. Todo mundo percebe os seus truques, mas às vezes precisamos da eloqüência de gente como Mr. Manson para explicar esse tipo, chamado apropriadamente de deformador de opinião:

"Ele lê toneladas de jornais para saber quais são os assuntos que estão carentes de uma opinião. Fica imaginando o que o povão vai pensar e tenta arquitetar um argumento que o contrarie, mas ao mesmo tempo o faça achar interessante".

A isso se resume o trabalho dos colunistas "polêmicos". Dar opiniões que, de tão absurdas, de tão contrárias ao senso comum, virem objeto de debate.

No texto em questão, Mainardi faz uma série de críticas ao cineasta Jorge Furtado. Cita informações publicadas em fontes diversas, que não tinham sido notadas pelo público, ou melhor, não tinham sido vistas pelo prisma extremamente negativo que o colunista da Veja usou. Nenhuma delas implica em algo ilegal e são apenas fatos normais na vida de um cineasta que capta dinheiro no país, mas a forma como foram citadas no texto dá a impressão de que Furtado é uma espécie de comissário do PT que vende sua integridade a quem pagar mais.

Não é preciso refutar o texto -- ele se refuta em si mesmo, tal o tom de libelo, o ódio que escorre de cada linha. Mas quem o lê desavisadamente pensa tratar-se de uma grave denúncia. Mainardi teve apuro na coleta de informações, que misturou a ilações totalmente gratuitas, mas eficazes. Ou seja, portou-se como um verdadeiro stalker do cineasta gaúcho, um perseguidor sem tréguas.

Foi isso que eu notei ao comentar o assunto no blog do Rafael. Que, se não fosse o paciente trabalho do stalker da Veja, ninguém teria falado no assunto. Afinal, que mal há um cineasta profissional ser pago pelo seu trabalho, captar dinheiro junto a empresas privadas e estatais, e trabalhar para campanhas políticas do PT ou do governo? Nada, né? As pessoas não se interessam por esse tipo de futricas, querem saber é do talento dele, que ele já provou em filmes e séries televisivas de sucesso.

Foi eu dizer isso e ser enxovalhado. Fui acusado de dar a Furtado uma "superioridade moral intrínseca" que o eximiria a priori de responder às "acusações". O problema é que não são acusações! Não existe uma linha no artigo de Mainardi que seja uma denúncia ou uma acusação. É simplesmente um julgamento moral das atitudes do cidadão Jorge Furtado.

Imagine que um stalker desses não goste de mim, Marcus Pessoa, e queira me atingir deliberadamente. Embora eu pouco fale da minha vida pessoal no blog, não seria tão difícil coletar algumas informações que, não significando nada demais em si, servissem para traçar um perfil extremamente negativo da minha pessoa. Afinal, ninguém é perfeito. E foi exatamente o que Diogo Mainardi fez com sua "vítima". É assim que fazem os reacionários quando querem atingir aqueles que pensam diferente deles.

Bem, o fato é que se desencadeou uma discussão chata sobre o financiamento do cinema nacional. Chata não porque não seja um assunto interessante, mas porque é sacal ter (ainda) que justificar que é importante que o cinema nacional exista (sim, pois tem liberais fundamentalistas que não acham isso importante, se a única opção é o apoio estatal).

Eu estou com preguiça de falar sobre isso agora, ainda mais que o Rafael fez uma ótima série de posts sobre o assunto. Eu queria que algum dos "contrários" falasse sobre o aperfeiçoamento, e não sobre a destruição do modelo atual. Em todo caso, a caixa de comentários está franqueada, se é verdade que minha opinião faz alguma diferença (e eu constatei, consternado, que parece que sim).

por Marcus Pessoa, às 21:02 -

19 de janeiro de 2005

Discurso único

Jean, do BBBSim, o autor desse blog está acompanhando o Big Brother Brasil 5. E os fatos recentes são um bom tema para reflexão.

Ontem foi o "paredão" entre a adolescente Juliana e o professor universitário Jean, gay assumido. Enquanto a primeira foi indicada por uma desavença pessoal com a líder Natália, Jean o foi por uma expressiva votação (6 votos) comandada por uma conspiração armada pelo trio de "machões" da casa, Paulo André (P.A.), Alan e Rogério.

Quando revelados os indicados, Pedro Bial perguntou ao estupefato professor a que ele atribuía tantos votos numa primeira semana de programa, e ele respondeu que podia ser "talvez por eu ser gay" -- o que foi não só uma revelação como uma acusação aos que o indicaram.

Foi a primeira vez em que um gay assumido participou de um paredão. Os homossexuais que participaram de edições anteriores (André Gabeh e Cristiano) nunca tocaram no assunto, e Cristiano chegou a negar que fosse gay. Jean, formado e com pós-graduação, é de longe o mais culto participante de qualquer das edições; conquistou a simpatia de muita gente dentro da casa e evitou brigas. Juliana, com seus piercings, tatuagens, cabelo pintado e jeito desbocado, também conquistou muita simpatia, mas desagradou uma parte dos espectadores ao aderir à conspiração do trio liderado por P.A.

Segundo Bial, Jean chegou a estar com 70% de votos contrários, mas se recuperou e ganhou por pequena margem (1%). Ele foi, com certeza, ajudado pela edição tendenciosa em seu favor, tanto do programa de segunda quanto do de terça feira. Os motivos da Globo ainda não ficaram claros: talvez Jean tenha mais condições de montar uma contra-estratégia (o que tornaria o jogo mais interessante para o público), ou então isso é resultado do enfoque da emissora em "ações afirmativas" para os homossexuais, como por exemplo no célebre casal lésbico da novela das 8.

O fato é que Jean ganhou, e o povão discutiu apaixonadamente a novidade. O que se nota, ao ouvir as conversas das pessoas no dia-a-dia e os fóruns da internet, não é apenas a previsível homofobia de uma parte do público, mas um discurso único, monolítico, dos que queriam que ele saísse do BBB.

Afinal, Jean é um candidato forte: esforçado, ajuda a todos, não se envolve em brigas, e tem uma conversa cativante, apesar de um certo ranço "politicamente correto". Tem ascendência sobre várias garotas mas não armou estratégias pra votar em grupo. Como criticar alguém assim? Para uma parte do público, é simples: ele tentou se fazer de coitadinho, atribuindo aos votantes um preconceito que não existia, pois os conspiradores votaram nele por ser um candidato forte, e não por ser gay. Esse argumento foi repetido de forma insistente, quase como um mantra, por dezenas de pessoas em vários fóruns que visitei.

Eu e meus amigos da comunidade Olavo de Carvalho nos Odeia, do Orkut, já estamos mais do que acostumados a discursos falsários, martelados incessantemente pelo vetusto articulista do Globo e seus devotos. Governo Lula é comunista? Mas como, se vem aplicando a mesma receita do PSDB? Ah, mas "o Foro de São Paulo é uma organização comunista"... como se a participação do PT em uma mesa de debates sem nenhuma importância fosse definir as linhas do governo...

E não sai muito daí -- se não é "Foro de São Paulo", é "dinheiro público para o MST", é "Conselho Federal de Jornalismo", e por aí vai. Mentiras ou irrelevâncias repetidas ad infinitum, até que pareçam verdades, à maneira de Goebbels.

A mesma coisa se pode dizer do "caso Jean". O argumento é mentiroso, por dois motivos: (a) Jean não insistiu na questão do preconceito. A frase citada mais acima foi uma reação emocional à enorme quantidade de votos que recebeu, e foi Bial, na verdade, que o pressionou para que ele dissesse a palavra "preconceito". Quando foi pedir votos ao público, mais tarde, não tocou no assunto. (b) é verdade que P.A. e os demais não falaram nisso quando combinaram o voto, e disseram apenas que ele era "manipulador", um "jogador forte"; pensavam que Jean também estava montando uma panelinha. Mas é evidente a homofobia pelo menos no núcleo masculino: a Globo mostrou cenas de preconceito velado, quando por exemplo Rogério fez uma chacota, chamando-o de "Jeanna Jones", e depois P.A. recusou-se a vestir um chapéu, ao saber que era o que tinha sido usado por Jean.

Se tiverem paciência, dêem uma olhada na comunidade BBB do Orkut (que eu chamo de "o país dos sem noção"). O que mais se vê são pessoas dizendo "não gosto de gays, mas não é por isso que quero que o Jean saia". Putz. Se os próprios homofóbicos não admitem que querem tirar Jean por sua orientação sexual, o que eles queriam? Que os conspiradores dissessem "é, foi por isso mesmo"? Ninguém quer assumir a pecha de preconceituoso, mas o preconceito existe, está fora de dúvida.

A saída então é repetir, repetir, repetir, o mesmo argumento, o mesmo discurso, dez, vinte, infinitas vezes. É uma estratégia familiar pra vocês, não? E muito adequada pra quem não consegue fazer muito esforço para pensar...

por Marcus Pessoa, às 17:25 -

15 de janeiro de 2005

Assunto velho: cinema e Estado

Já que o Rafael linkou pra cá, a respeito de um comentário que eu fiz nesse imbroglio Mainardi x Jorge Furtado, achei que deveria colocar aqui o comment que escrevi lá:

* * * * *

"Não sou liberal mas acho que a melhor maneira de ter uma grande produção cinematografica é que ela ande somente com suas próprias pernas" (Vítor)

Vítor, isso que você defende (uma produção cinematográfica que ande com suas próprias pernas) não existe, a não ser em dois lugares: Estados Unidos e Índia (esta, a terra dos piores filmes do mundo).

Na medida em que qualquer um prova que não é possível fazer cinema brasileiro sem apoio estatal, das duas uma: ou defendemos dogmas liberais e matamos o cinema brasileiro, ou pensamos de que forma o apoio do Estado pode ajudar a gerar um cinema em sintonia com o país em que é criado.

Tenho certeza que alguns bobos e wunderbobos preferem a primeira alternativa...

por Marcus Pessoa, às 05:28 -

3 de janeiro de 2005

Tempestade no Orkut

Mr. Manson, do Cocadaboa, atacou novamente. Nesse caso, não para divulgar seus boatos falsos, mas para mostrar na prática e pra muita gente uma falha gravíssima do Internet Explorer, que permitiu a ele tornar-se virtualmente o dono do Orkut, o popular site de relacionamentos pessoais do Google.

Ele explica isso em matéria publicada ontem no Cocadaboa: a falha permite inserir um script malicioso em uma página, de forma que o usuário do Internet Explorer que o acesse entregue de mão beijada sua identidade no Orkut.

Aparentemente, ele próprio ou alguém associado enviou aos proprietários das maiores comunidades uma mensagem falsa que os fez visitar algum site com o tal script, e depois criou um usuário que se apossou de várias delas, inclusive a segunda maior, Eu amo chocolate, com quase 150 mil usuários.

Qual o objetivo disso? Divulgar o Firefox, navegador já comentado aqui, que não tem a falha citada, e que já estava sendo objeto de matérias do Cocadaboa há algum tempo, inclusive uma engraçadíssima galeria de banners para o programa, em parceria com o Timelei.com.

O usuário "dono" do Orkut desde o dia de ontem chama-se Firefox Rules, e está causando celeuma nas comunidades seqüestradas, como a já citada Eu amo chocolate, além da Hello Kitty, Só me fodo (hehehe...), Vinicius de Moraes, Eu amo a minha irmã, Ilha do Governador, Clube dos amantes das mestiças, Ninguém escreve meu nome certo, Chaves fuma maconha e até (quem diria) a Linux Brasil, cujo moderador aparentemente não usa Linux...

É preciso ser associado do Orkut para acessar os links acima. Já foi até criada uma comunidade para discutir o assunto, chamada Hackearam o Orkut. Não se sabe em que a propaganda de Mr. Manson e cia. vai dar -- tem gente até pensando que o script está no próprio site do Cocadaboa, o que não é verdade. Pode ter quem fique com raiva do Firefox, por causa da brincadeira. Mas o fato é que nunca antes tanta gente ficou sabendo de uma falha do Internet Explorer de uma forma tão direta assim...

Update - Várias comunidades já foram devolvidas, conforme prometido, e Mr. Manson deu uma esclarecedora entrevista, onde confirma a história contada anteriormente, e arremata de forma brilhante: "antes o Cocadaboa pregava peças na mídia com mentiras, agora prega uma grande peça com a verdade".

por Marcus Pessoa, às 06:01 -

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