Velho do Farol

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18 de julho de 2007

Mães Dinah da segurança de vôo

Este blog, que em breve estará se mudando para um provedor neutro em emissões de carbono, apóia a luta contra o aquecimento global, e por extensão condena todo o gasto inútil de energia, incluindo os posts ociosos, especulativos e desinformados da blogolândia brasileira sobre o trágico acidente da TAM.

Como eu disse ao Inagaki, nessa hora surgem milhares de especialistas em segurança de vôo. Todo mundo agora sabe o que é grooving e enche a boca para dizer que a falta das ranhuras na pista foi uma das causas do acidente.

[update] Eu não estou dizendo que o Ina fez um post desinformado ou ocioso. Divirjo dele, e (pra variar) já provoquei um atrito hoje, mas o linkei porque o respeito e pra ele dá vontade de responder. Os indignacionistas de verdade, que apenas psicografam sua desordem de pensamentos do momento, eu leio o primeiro parágrafo e descarto. [/update]

Será que essas pessoas sabem que a pista de Congonhas nunca teve grooving? E que funcionou por décadas dessa forma, sem acidentes deste porte?

A pista tinha problemas sérios, e eles foram objeto de uma reportagem de Luiz Carlos Azenha no Jornal Nacional, relatada ontem em seu blog. A engenheira e pesquisadora Marcia Aps mostrou que a pista não seguia os padrões internacionais de segurança.

Por causa disso, houve uma reforma, auditada pelo próprio IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) onde trabalha a pesquisadora, cuja tese de doutorado é sobre... aderência de pneus em pistas de aeroportos...

A lógica indica que a pista está melhor agora do que antes. É até possível que não esteja, mas isso só saberemos depois da investigação. Só o complexo de vira-lata do brasileiro é que explica essa desconfiança atávica contra os nossos melhores especialistas e a crença de que "nada pode mesmo dar certo aqui".

Meu irmão já leu um relatório sobre um pequeno acidente aéreo aqui no Pará, há alguns anos, e me informa, impressionado, sobre a riqueza de detalhes da investigação, a cargo da Aeronáutica. Além das dezenas de páginas de questões técnicas, a comissão responsável investigou até a situação familiar do piloto, e um possível stress que pudesse ter interferido em sua performance.

Temos especialistas que trabalham a sério sobre causas de acidentes, e eles vão dizer, afinal, os motivos dos tristes fatos de ontem. Eu prefiro aguardar a palavra dos experts. Leigos e curiosos eu faço questão de ignorar.

Pode-se discutir, é claro, a conveniência da manutenção de tanto movimento aéreo em Congonhas, cujas condições de segurança são aceitáveis para os padrões internacionais, mas não ideais.

Mas sem dedo na cara dos outros, por favor. Vamos deixar de hipocrisia. "Segurança absoluta" non ecziste. Compatibilizar as questões de segurança com outras (financeiras e de operacionalidade) é uma decisão racional que tomamos todos os dias. Quem nunca comprou um carro sem air bag e freios ABS que atire a primeira pedra.

O que eu acho mais interessante é falaram em "tragédia anunciada". Anunciada por quem, exatamente? Eu não vi nenhum dos que falam em tragédia anunciada, a terem anunciado antes! Cadê os posts, matérias e artigos indignados, falando sobre uma suposta inviabilidade de Congonhas, anteriores à tragédia?

Isso me lembra da Mãe Dinah. Ela se notabilizou por fazer previsões que eram anunciadas sempre depois que o evento previsto se realizava. Blogueiros e palpiteiros profissionais de jornal são hoje as Mães Dinah da segurança de vôo: sabiam tudo o que ia acontecer, mas só falaram sobre isso depois do fato consumado.

por Marcus Pessoa, às 16:53 -

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