Velho do Farol

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19 de junho de 2004

The House of Love

The House of LoveEste post dá origem a uma série: Discoteca Básica, onde falarei, vez por outra, de alguns grandes discos da história do rock. Não quero me meter a crítico, apenas contar um pouco do impacto de cada obra em mim e naqueles que a escutaram. E citar principalmente discos que não sejam "arroz de festa" em listas semelhantes.

Essa banda inglesa, The House of Love, é bem pouco conhecida do público. Quando seu primeiro disco ("The House of Love", simplesmente) foi lançado aqui em vinil, nos anos 80, lembro de ter lido uma resenha na extinta revista Bizz dizendo que o lançamento em si era um milagre, pois a banda era anônima até em seu país natal.

O Brasil vivia a febre do rock, pós-Plano Cruzado, e uma pequena gravadora, Stiletto, lançava as jóias do pós-punk e da new wave aqui, em edições encontráveis em qualquer magazine. Foi o tempo, para muita gente, de ouvir pela primeira vez Joy Divison, Nick Cave, Durutti Columm, The Fall e mesmo os discos menos conhecidos do New Order e Smiths.

Todo mundo comprou os seus bolachões, e um dos que mais causou impacto dessa leva foi o do House of Love (1988, Creation). Ninguém sabia nada sobre eles, mas não importava: o disco é uma coleção perfeita de canções de amor, intensas e ao mesmo tempo melancólicas; alterna rocks e baladas com equilíbrio, e tem melodias realmente apaixonantes.

O som é muito influenciado pela psicodelia sessentista, com "muros de guitarras", feedbacks, corinhos, etc, mas com uma energia e um peso vindos diretamente do pós-punk. O vocal de Guy Chadwick (também o principal compositor) impressiona, e todas as músicas são assobiáveis e tocáveis ao violão.

É difícil separar faixas, mas Chistine, que abre o disco e foi o único single, é um bom cartão de visitas para a banda: rock viajante com um belo arranjo em camadas, e que evolui para um êxtase de guitarras distorcidas. Man to Child é de chorar de tão doce. E Love in a Car também tem guitar walls, sendo talvez a melhor música do disco. (Clique no link acima para escutar um trecho de "Christine").

Se tivesse surgido hoje, a banda seria aclamada como a salvação do rock. Na ressaca pós-fim dos Smiths, passou despercebida, com pouco ou nenhum sucesso comercial, e uma sucessão infindável de singles fracassados e sessões de gravação abortadas, até terminar de forma melancólica em 1993. Chadwick ainda tentou vários projetos, solo ou acompanhado, também sem sucesso.

Mesmo assim, o House of Love deixou várias pérolas em discos posteriores. Além desse debut, quase não houve mais edições nacionais: Call Me (do derradeiro "Audience with the Mind") integrou a trilha sonora de Faraway, So Close! (Tão Longe, Tão Perto, filme de Wim Wenders), e I Don't Know Why I Love You (do disco de 1990) fez parte de uma coletânea brazuca chamada "College Rock". Duas belíssimas canções, por sinal.

"The House of Love", o disco, está fora de catálogo, mas foi incluído integralmente na compilação 86-89: The Creation Recordings, juntamente com todos os singles lançados no início da carreira da banda.

Dá para pesquisar a discografia completa deles no site The House of Love & Guy Chadwick, mantido por um fã. Segundo o site, a banda retornou para alguns shows no ano passado e está gravado um disco novo. É esperar para ver o que os quixotes apaixonados vão aprontar dessa vez.

por Marcus Pessoa, às 04:58 -

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