10 de agosto de 2004
"Vote em mim!"
Calma, a campanha eleitoral não chegou (e nem chegará) a este espaço. O convite é para que o leitor compareça à votação do Troféu Santa Clara, iniciativa da Folha de S. Paulo que escolhe os piores da televisão brasileira.Parêntese: nos últimos dez anos, fiquei sem TV em casa durante quase todo o tempo. Era maravilhoso ter apenas livros para vencer o tédio. Mas agora estou solteiro e voltei a morar com minha mãe, que comprou uma TV enorme e com ótima imagem. Todo mundo sabe que TV aberta é um lixo, mas eu sou um adicto em porcaria, e quase todos no fundo somos apenas insetos em volta da lâmpada. Fecha parêntese.
A votação do troféu vai até esta quinta feira, então não perca tempo, clique no link e vote. Eu já votei, e estava até um pouco decepcionado por ter sido tão pouco criativo nas escolhas. Entrevista falsa do PCC como o fiasco do ano? Muito óbvio. Eu Vi na TV como o pior programa entre todos? Muito justo, mas não seria notícia velha?
Não, não seria.
Tentando vencer a insônia, estava zapeando ainda agora e vi a Luciana Gimenez dando "entrevista" para o João Kleber. Ela fez o gênero "mulher de personalidade", amiga de todos e perseguida pela imprensa. Até aí nada demais, a não ser que, mesmo se eu fosse acreditar em tudo o que ela diz, ainda não entenderia como uma mulher tão "íntegra" e "inteligente" consegue fazer aqueles olhares bovinos enquanto patrocina espetáculos diários de baixaria em seu programa.
Mas isso é só outro parêntese. O que me deixou indignado, até enojado mesmo, foi uma inovação do famigerado teste de fidelidade, que veio logo a seguir. Depois de esquetes infames, onde homens supostamente comuns apareciam em cafajestadas com atrizes calipígias (ou mesmo travestis bem caracterizados), agora quem foi "testada" foi a mulher - ou seja, a namorada do basbaque que se dizia (como sempre) seguro de seu amor.
Bem, a essa altura qualquer pessoa de bom senso (ou seja, que não costuma assistir o programa) já sabe que esse quadro é a maior armação, pois nem o homem mais imbecil conseguiria ser tão canastra enquanto é paquerado por uma boazuda songamonga. Mas a brincadeira de inversão de gêneros passou de todos os limites do mau gosto.
Me diga, caro leitor: o que você sentiria ao ver uma mulher bonita, do tipo "normal", que poderia ser sua colega de escritório ou vizinha de andar, e comprometida, se entregar em cinco minutos à lábia de um bonitão que ela acabou de conhecer, numa suposta entrevista de emprego? Pensaria em algumas palavrinhas começadas com a letra P, não? Sim, é tudo teatrinho, e muita gente deve saber disso, mas as mulheres não ficam bem na foto, né?
A cafajestada masculina ainda pode ser levada na galhofa, já que o amante caliente só se queima mesmo com a suposta cara-metade. Podem me chamar de machista, antiquado, o que for, mas eu sou do tempo em que garotas precisavam de mais do que alguns músculos bem trabalhados e uma conversa mole para se entregarem a um estranho. De um tempo onde lugar de mulheres que diziam sim tão fácil era na zona (desculpem, não deu pra evitar).
Aliás, eu ainda acredito que esse tempo ainda não se foi. Acredito nisso, mesmo que me chamem de Polyanna. Ao abordar o tema de forma tão baixa, fingindo que a liberação sexual invalidou, se não os parâmetros éticos, pelo menos os estéticos (pois é algo muito feio de se ver), João Kleber consegue ser ainda pior do que sempre foi.
Vejam bem, eu não tenho nada contra o sexo sem compromisso e a libertinagem consciente e deliberada. O que eu acho um acinte é ouvir uma garota sendo chamada de "safada" e coisas piores ainda na TV, mesmo sendo tudo uma armação.
Por isso, eu ponho essa foto aí em cima, que parece implorar: "Vote em mim! Eu sou o maior canalha, a maior excrescência, o mais vil de todos os patetas vis de nossa TV-lixo!" Então, mais uma vez convido: vote no Troféu Santa Clara. Provavelmente não vai adiantar nada, mas pelo menos você consegue se acalmar um pouco de tanta indignação.
por Marcus Pessoa, às 02:08 -