25 de agosto de 2005
R. I. P.
É muito triste quando alguém morre -- mesmo que seja um personagem de ficção. Para quem, como eu, leu anos e anos as histórias da simpática Velhinha de Taubaté, de Luís Fernando Veríssimo (uma divertida referência à mentira como ingrediente básico da política), foi chocante saber que seu criador a matou. Hoje, em sua coluna n'O Globo.Esse fato me faz acreditar que não existem limites para o desencanto que essa crise política provoca e provocará em todos nós. Eu sinto a própria idéia de ter esperança num país melhor se esvaindo. Desculpem a pieguice, mas eu estou com o ânimo destroçado -- por isso não quero tratar do assunto aqui, por enquanto.
O texto vai ficar no site do jornal apenas até sábado, então o reproduzo integralmente abaixo.
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Velhinha de Taubaté (1915-2005)
Morreu no último dia 19, aos 90 anos de idade, de causa ignorada, a paulista conhecida como "a Velhinha de Taubaté", que se tornou uma celebridade nacional há alguns anos por ser a última pessoa no Brasil que ainda acreditava no governo.
O fenômeno, que veio a público durante o governo Figueiredo, o último do ciclo dos generais, levou multidões a Taubaté e transformou a Velhinha numa das maiores atrações turísticas do estado. Além de estandes de tiro ao alvo e de venda de estatuetas da Velhinha e de uma roda-gigante, ergueram-se tendas para vender caldo de cana e pamonha em volta da pequena casa de madeira onde a Velhinha morava sozinha com seu gato, e não era raro a própria Velhinha sair de casa e oferecer seus bolinhos de polvilho a curiosos que chegavam em ônibus de excursão para serem fotografados com ela e pedirem seu autógrafo.
A Velhinha sempre acompanhou a política e acreditou em todos os governos desde o de Getúlio Vargas, inclusive em todos os colaboradores dos governos militares, "até", como costumavam dizer muitos na época, com espanto, "no Delfim Netto!" O presidente Sarney telefonava freqüentemente para Taubaté para saber se a Velhinha, pelo menos, ainda acreditava nele, e Collor foi visitá-la mais de uma vez para pedir que ela não o deixasse só.
As circunstâncias da morte da Velhinha de Taubaté ainda não estão esclarecidas. Sua sobrinha Suzette, que tem uma agência de acompanhantes de congressistas em Brasília embora a Velhinha acreditasse que ela fazia trabalho social com religiosas, informou que a Velhinha já tivera um pequeno acidente vascular ao saber da compra de votos para a reeleição do Fernando Henrique Cardoso, em quem ela acreditava muito, mas ficara satisfeita com as explicações e se recuperara.
Segundo Suzette, ela estava acompanhando as CPIs, comentara a sinceridade e o espírito público de todos os componentes das comissões, nenhum dos quais estava fazendo política, e de todos os depoentes, e acreditava que como todos estavam dizendo a verdade a crise acabaria logo, mas ultimamente começara a dar sinais de desânimo e, para grande surpresa da sobrinha, descrença.
A Velhinha acreditara em Lula desde o começo e até rebatizara o seu gato, que agora se chamava Zé. Acreditava principalmente no Palocci. Ela morreu na frente da televisão, talvez com o choque de alguma notícia. Mas a polícia mandou os restos do chá que a Velhinha estava tomando com bolinhos de polvilho para exame de laboratório. Pode ter sido suicídio.
O ambiente no parque de diversão em torno da casa da Velhinha de Taubaté é de grande consternação.
por Marcus Pessoa, às 05:19 -
21 de agosto de 2005
Dead air space
Há muitos anos que a minha banda preferida, entre todas, é o Radiohead. Desde o primeiro disco, passando por tantas mudanças, eles sempre conseguiram me surpreender e emocionar.
Depois de longas férias, eles estão no estúdio gravando um novo disco. E o melhor: estão blogando o processo -- colocando fotos e frases curtas cheias de ironia. Pra quem é fã, é imperdível.
A banda não renovou com sua antiga gravadora (EMI), e o disco está sendo feito de forma independente, no estúdio deles. Quando sai, não se sabe.
A música abaixo é de um single de 2001, Knives Out. Uma das minhas preferidas, passou anos sendo apenas tocada em shows, com o nome de Alligators in New York Sewers. Clique para ouvir.
FOG
Radiohead
There's a little child
Runnin' 'round this house
And he never leaves
He will never leave
And the fog comes up
From the sewers and glows
In the dark
Baby alligators in the sewers
Grow up fast
Grow up fast
Anything you want it can be done now
How did you go bad?
Did you go bad?
Did you go bad?
Some things will never wash away
Did you go bad?
Did you go bad?
por Marcus Pessoa, às 01:31 -
14 de agosto de 2005
Link-o-rama
Os amigos vivem reclamando que eu demoro pra postar aqui. Bem, tenho um monte de coisas escritas pela metade, mas alinhavar isso e publicar dá uma preguiça... Blogueiro preguiçoso quando não tá a fim de trabalhar, põe links. É o meu caso agora, mas os blogs abaixo são leituras muito recomendáveis.Primeiro o Deuxième Sexe. Um blog mutante: já foi um lugar "onde só se fala de novela", depois "um blog para meninas", agora "um blog são-paulino". Mary W. foi a primeira pessoa a linkar o Velho do Farol, ainda bem no início. E está numa fase inspiradíssima, mandando uma pedrada atrás da outra. Tem política, cinema, psicanálise, sociologia, uma pá de coisa. Os arquivos são leitura obrigatória.
Meu "vizinho" (mora em Manaus), Ismael Benigno, do Malfazejo, ainda não recebeu nem um tiquinho dos links que merece. O texto dele, a ironia cortante, o faro para notícias bizarras, tudo impressiona lá. São imperdíveis as semanais "notas de segunda-feira", e os arquivos são pra usar, viu?
Para aqueles, como eu, que gostam de rock alternativo e música eletrônica moderna, e se viciam em ouvir discos que ainda não saíram na loja, o caminho certo é o blog português Planeta Pop. Seu dono, o Astronauta, está de férias no momento, mas sempre dá dicas certeiras sobre os discos que estão saindo. É um blog multimídia, como aqui: tem uma pequena rádio e sempre um videoclipe novo rolando.
O filme*log contém exclusivamente críticas de filmes. É de um chapa meu de muitos anos, Nicolas Bardo (ou Vlad Taltos, sei lá que nick maluco ele está usando agora). Ele saca muito do novo cinema oriental, tem opiniões fortes e vê cinema o tempo todo. E é muito crítico com o que vê: se fala bem de um filme, pode ter certeza que é bom...
O Philipinas tem sido bastante falado, e com razão: é talvez o melhor blog brasileiro de cultura pop. O Phelipe tem um texto ferino, muito engraçado, e fala sobre música, cinema, celebridades, sempre com um enfoque inusitado. E tem um time de comentadores da pesada.
Como os leitores sabem, a política está de férias nesse blog. De qualquer forma, tem muitos blogs excelentes falando sobre a crise em Brasília. Se você está "por aqui" com Lula e o PT e quer "sangue", visite o Nova Corja, blog coletivo lá do Insanus. Sim, eles são raivosamente anti-petistas, mas não são de direita. Lá você vai acompanhar as notícias fresquinhas da derrocada da "nova corja" que veio substituir as antigas... e vote no "bolão da impeção" também...
Não podia deixar de lado o pessoal techie. O Viu Isso? vem com "notícias e comentários sobre comunicação digital, internet e publicidade". Michael Lent está sempre em cima do lance, e qualquer pessoa se sente bem-informada depois de dar uma passada lá.
Por último, uma dica para os leitores paraenses (tem algum?). O jornalista Augusto Barata inaugurou recentemente o seu Pauta Livre, com notinhas sobre a política daqui. No Pará não existe imprensa de verdade; e como o grande Lúcio Flávio Pinto guarda o melhor de sua produção para sua newsletter impressa, o blog do Augusto é, até onde sei, a única fonte jornalística verdadeiramente independente da internet paraoara.
por Marcus Pessoa, às 14:05 -
13 de agosto de 2005
Computadores faziam cálculos, não arte
Por puro acaso caiu em minhas mãos um exemplar de 1958 da revista Ciência Popular, publicação de divulgação científica pobremente impressa, com imensos textos em corpo 8, manchetes com pontos de exclamação e uma grande variedade de assuntos.Entre artigos um tanto apressados como "O Infarto do miocárdio deixará de matar!" e um amplo dossiê ilustrado contra a maconha, achei esse pequeno texto (não assinado) sobre a primeira geração de computadores. Notem que eles não usam o termo "computadores", mas máquinas de calcular eletrônicas. No máximo, citam o termo ordenadores, que até hoje é a palavra em espanhol para designar o micro que você tem diante de si.
Achei fascinante, como visão ainda um tanto incipiente sobre as possibilidades dessas "máquinas de calcular". PCs, é claro, não existiam nem nos sonhos mais visionários.
Abaixo, os melhores trechos.
A MÁQUINA DE CALCULAR NÃO SUBSTITUI O HOMEM!
Há quinze anos, apareceu nos Estados Unidos a primeira máquina eletrônica de calcular, denominada ENIAC (Electronic Numerical Integrator and Automatic Calculator). A partir dêsse momento, foram realizados notáveis progressos na construção de tais tipos de máquinas, para as quais o têrmo de "ordenadores" (Information Processing Machines) vem generalizando-se.
Sua utilização encontra mercado com incrível rapidez, tanto para as necessidades de investigação científica pura e aplicada, como (...) de um modo geral, para a solução rápida de todos os problemas que contenham elevado número de variações (caso concreto em meterologia).
(...) Para os grandes serviços administrativos, públicos ou particulares: bancos, transportes, seguros, etc., tais máquinas vêm solucionar um problema que até agora esbarrava em grandes dificuldades: o registro de elevado número de informações, assim como a possibilidade de tornar a encontrar instantaneamente os dados necessários para uma decisão definitiva.
As máquinas de calcular eletrônica não substituem -- naturalmente -- a reflexão criadora do homem. A expressão "cérebro eletrônico", com que às vêzes são designadas essas máquinas, contribuiu, com efeito, para estabelecer certa confusão, dando idéia errônea dos fatos. Da mesma forma que a descoberta dos logarítmos permitiu, no decorrer do século XVI, automatizar os cálculos aritméticos, graças às propriedades dos expoentes, a invenção das máquinas calculadoras eletrônicas permite efetuar, automática e ràpidamente, complicadas operações matemáticas. (...)
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A inspiração para o título do post veio da música de letra minimalista de Fred Zero Quatro, já gravada por Chico Science & Nação Zumbi, Mundo Livre S/A e Elza Soares. Clique para ouvir.
Computadores Fazem Arte
(Fred Zero Quatro)
Computadores fazem arte
Artistas fazem dinheiro
Computadores avançam
Artistas pegam carona
Cientistas criam o novo
Artistas levam a fama
por Marcus Pessoa, às 07:10 -
9 de agosto de 2005
Poesia de bar
Roubei daqui.
por Marcus Pessoa, às 14:00 -