Velho do Farol

Porque sim.

Velho do Farol

14 de setembro de 2005

Bons e maus sentimentos

O blog For the Masses fez uma interessante contestação à minha crítica aos "maus sentimentos" expostos em blogs de direita:

"Blogueiros pensam que externar a dor no seu próprio blog é uma atitude pia, digna de louvor? Mostrar bom sentimentos é natural, portanto tedioso e nada louvável".

Concordo. Nem me passa pela cabeça considerar que externar a dor pelo sentimento alheio ou bons sentimentos é algo digno de louvor. É algo comum e natural, como ele diz.

Na verdade, dependendo do contexto, essa expressão de bons sentimentos é falsa. Lembro de uma passagem do romance "A Brincadeira", de Milan Kundera, onde o protagonista desdenha dos diários de um herói comunista tcheco que, preso por uma ditadura ou coisa que o valha, escreveu furiosas palavras contra os seus algozes, que o povo interpretou como palavras heróicas de alguém que sabia que iria morrer supliciado.

O autor, pela voz de seu personagem, questionava o suposto heroísmo. Ele achava que o verdadeiro herói não escreveria sobre seus sentimentos para depois contrabandear os escritos para fora da prisão. Essa atitude estava mais destinada a buscar uma glória, mesmo que póstuma. O verdadeiro herói ficaria só com seus sentimentos, buscaria apenas neles a redenção pela sua situação.

O blog já citado arremata com uma boa provocação:

"Todos somos bons no dia-a-dia, sabemos. À nossa presença, até um espirro é digno de compaixão. Pois bem: não podemos ser um pouco maus aqui, só para variar? Não podemos silenciar, altissonantes, à barbárie ou ao sofrimento alheio, qualquer que seja? Dito isso, quando ser mau se tornar uma 'atitude' –- e talvez o caso esteja próximo --, voltemos a ser bonzinhos. E segue o ciclo. Se não, fica tudo meio monótono".

Infelizmente, eu acho que ser "mau" já se tornou uma atitude da moda há muito tempo...

por Marcus Pessoa, às 04:20 -

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