18 de novembro de 2005
Astrólogo não, jornalista
Olavo de Carvalho e seus seguidores na direita blogueira não têm importância alguma no debate nacional; escrevem coisas tão absurdas que, quando me ocupo deles, é mais por diversão. Afinal, não é divertido ver gente acreditando que o comunismo ainda existe como movimento forte e organizado? Ou que o Brasil é uma ditadura comunista, nesse exato momento?Mas convém não perder de vista essa marcha da insensatez, pois ela avança. No Natal passado, um primo meu, que considero inteligente e lê muito, defendeu na mesa de jantar essa tese do Brasil comunista. Até minhas tias, carolas e anti-petistas, acharam ridículo; mas é da natureza dessa neo-direita achar que enxergam além de 99% da humanidade.
Esse neo-conservadorismo é forte nos Estados Unidos, e a direita tenta importar para o Brasil a agenda de lá (com mil juras de amor a George W. Bush).
Com o ibope do Olavo cada vez mais baixo, cresce o nome de alguém bem mais preparado que o astrólogo carioca pra liderar a direita: Reinaldo Azevedo, editor da revista Primeira Leitura.
O Rafael Galvão já abordou o assunto num post antigo. Meu irmão lia bastante o site da revista, que considerava razoavelmente isento, mas notou que, após a passagem de José Serra para o segundo turno das eleições de 2002, o site deu uma guinada total pró-PSDB e anti-PT. Houve depois uma mudança ainda mais radical, e o que temos hoje é o citado Reinaldo Azevedo defendendo indiretamente a abstinência sexual como método de combate à gravidez na adolescência.
O Smart Shade of Blue tem feito o media watching dessa neo-direita, o que tem deixado quase intransitáveis suas caixas de comentários, de tantos representantes da dita cuja que vão lá esculachá-lo.
Mais uma vez eu me pergunto se vale a pena dar atenção a essa gente. Afinal, dizer que o Estado não deveria distribuir camisinhas gratuitamente é coisa de besta quadrada, né? No entanto, pelo seu verniz intelectual, pela sua identificação (mesmo que totalmente fora do contexto) com o liberalismo, Reinaldo Azevedo é considerado alguém instigante, que investe contra o "consenso politicamente correto" da mídia.
Disse eu uma vez a um amigo liberal: de que adiantam belos princípios, se falta o bom senso? Ele achava que não cabia ao Estado obrigar os motoristas a usar cintos de segurança, e "se alguns morrem por burrice o problema é deles". Típico. O primado da consciência individual é um dogma de tal importância que ignoram deliberadamente os problemas reais.
R.A. até tem razão quando critica os entrevistadores de Seu Jorge no Roda Viva, que quiseram formatá-lo num papel de "vítima do sistema". Mas o acerto inicial extrapola, e muito, os limites do bom-senso, quando passa a investir raivosamente contra qualquer tipo de humanitarismo, dizendo inclusive que Seu Jorge felizmente não teve a "má sorte de cair nas teias de proteção de um padre Júlio Lancellotti".
Noves fora o Smart ter mostrado (na caixa de comentários desse post) que no caminho de Seu Jorge houve a presença de ONGs que levam cultura à gente da periferia, espanta que a direita, em nome da crítica ao tal "consenso", promova esse ataque genérico ao próprio ato de ajudar o semelhante.
R.A. cantou a pedra em outro artigo, criticando en passant o "humanismo capenga da década de 50, que ainda era pautado pelo comunismo". An-ham. Pelo jeito, o humanismo não é uma herança do Renascimento, um dos pilares da democracia e do pensamento moderno, mas apenas uma enganação das campanhas "pela paz" do século passado...
Dá pra levar a sério um cara desse?
por Marcus Pessoa, às 20:11 -