Velho do Farol

Porque sim.

Velho do Farol

5 de março de 2006

Joyeux Noel

Joyeux Noel PosterIndicado ao Oscar de filme estrangeiro, Joyeux Noel (Feliz Natal em português; ainda não lançado no Brasil) conta uma história real, acontecida em dezembro de 1914, na Primeira Guerra Mundial, quando integrantes de exércitos inimigos se confraternizaram na noite de Natal.

Não foi apenas um cessar fogo. Os soldados ingleses, franceses e alemães saíram de suas trincheiras, trocaram presentes, assistiram a uma missa juntos e até jogaram futebol. O filme talvez seja um pouco meloso, mas só o fato de retratar esse acontecimento único já o torna muito emocionante.

Quando você olha seu "inimigo" no olho e percebe que ele é igual a você, não dá pra matá-lo. Todas as justificativas bem-intencionadas para guerras são, em última instância, uma tentativa de aceitar o inaceitável. Endurecemos nosso coração para, talvez, quem sabe, um dia, com sorte, se não der tudo errado e se Deus quiser, aquela matança gere algum benefício pra alguém.

Os comandos militares dos países envolvidos no episódio reprimiram duramente os pelotões que participaram da trégua, e nada chegou à imprensa. Em determinado momento, um general se pergunta o que aconteceria "se o público soubesse disso". Pois é, pessoas deixarem por uma noite de matar-se umas às outras é profundamente subversivo! Pra se certificar que o fato não se repetisse, foram programados grandes bombardeios para todos os Natais subseqüentes da guerra.

Como não podia deixar de ser, o filme faz um comentário sobre a situação atual. Um bispo inglês afasta o padre-capelão que rezou a missa naquela noite e faz um sermão para os soldados:

Cristo, nosso Senhor, disse: "Não pense que eu vou trazer a paz. Não trarei a paz, só uma espada". Bem meus irmãos, a espada do Senhor, está em suas mãos. Vocês são os defensores da civilização. As forças do bem contra as forças do mal. Pois essa guerra é uma cruzada, uma guerra santa, para salvar a liberdade do mundo. Na verdade vos digo: os alemães não são como nós, filhos de Deus. Bombardeiam cidades habitadas somente por civis, os filhos de Deus? Andam armados se escondendo atrás de mulheres e crianças, os filhos de Deus? Com a ajuda de Deus, devemos matar os alemães, bons ou maus, jovens ou velhos. Matar cada um deles, para que isso não se repita.


Pra bom entendedor, etc, etc.

por Marcus Pessoa, às 03:14 -

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