11 de novembro de 2006
Machuca
Todo mundo já deve ter visto, menos o atrasildo aqui, até ontem. Se tem alguém mais atrasildo que eu, alugue este filme com urgência. Machuca não é só um dos melhores filmes já feitos na América Latina, mas uma junção brilhante entre dois gêneros consagrados, o filme político e o romance de formação.
No Chile de Salvador Allende, uma amizade inusitada une Gonzalo Infante, um garoto ruivo e de classe média, e Pedro Machuca, de traços indígenas e muito pobre. Só se conhecem porque, no caro colégio particular onde Gonzalo estuda, o diretor, influenciado pelos ideais socialistas de Allende, admite alguns alunos pobres gratuitamente.
Gonzalo entra na vida de Pedro e descobre uma realidade muito distante de seu confortável mundo burguês.
Ao contrário de alguns filmes políticos brasileiros, onde os protagonistas são gente idealista de classe média, Machuca mostra as coisas como elas realmente são: a elite de um lado, a plebe do outro. Mesmo a amizade de duas crianças não está imune às diferenças de classe, que afloram num momento chave.
Figuras familiares vão se sucedendo: o esquerdista caviar que acha ótima a experiência de Allende, mas quer mesmo é fugir para uma boa vida no estrangeiro; a dona de casa alienada que não entende essa gente estranha que quer igualdade, e acaba se aliando à direita; e os burgueses canalhas de sempre.
Gonzalo observa a tudo atentamente, e vai dando um jeito de crescer no meio desse caos. Ele e Pedro dividem algumas descobertas, e o filme nunca perde de vista o lado humano de duas crianças tentando entender o mundo à sua volta.
E sim, é um filme que toma partido. Até porque, se não fossem as idéias meio bizarras do diretor da escola, nem teríamos essa história para contar. Contra-indicado para indiferentes e cínicos.
por Marcus Pessoa, às 03:25 -