Velho do Farol

Porque sim.

Velho do Farol

14 de novembro de 2006

Me engana que eu gosto

Obrigado por Fumar (Thank You for Smoking) é uma das melhores comédias do ano. O filme de Jason Reitman mostra a vida de Nick Naylor, lobista da indústria do cigarro, cujo trabalho é mostrar que esta não é tão ruim assim.

O filme não defende o tabagismo, e os magnatas do fumacê são mostrados de forma bem sarcástica. Mas vemos a hipocrisia dos críticos do cigarro, e um panorama do complexo jogo de pressões e convencimento da sociedade norte-americana.

O assunto principal, aliás, não é "cigarro", e sim "convencer o público". Pra isso vale tudo, e Naylor usa um arsenal de truques retóricos junto a redes de TV, comissões do Congresso e até entre usuários comuns. Ele é o funcionário modelo, que veste a camisa de sua empresa e tenta convencer a fumar jovens incautos em vôos da classe econômica.

Algumas das cenas mais interessantes são quando ele tenta justificar seu profissão para seu filho pré-adolescente, Joey. A cena abaixo não é particularmente engraçada, mas é muito relevadora: Joey aprende como vencer uma discussão sem ter razão.


O garoto participa do clube de debates no colégio, uma tradição norte-americana, onde os alunos se destacam por seu brilho argumentativo, independentemente da tese que escolham para defender. Gerações inteiras cuidadosamente adestradas para distorcer e desvalorizar os argumentos contrários.

Mas não é porque os gringos levaram a falácia a um nível quase científico que isso é exclusividade deles. Falácias são uma prática universal, tão disseminada que a maioria das pessoas as usa sem perceber. E a quantidade de truques retóricos disponíveis é enorme: um texto do professor Fredric Litto cataloga 45 deles -- e ainda ficou faltando coisa.

Arthur Schopenhauer é um pouco mais modesto: seu opúsculo sobre a dialética erística (que na edição da Martins Fontes ganhou o nome de A arte de ter razão) analisa "apenas" 38 técnicas, mas de forma mais aprofundada.

Aliás, fujam da edição que a Topbooks fez do mesmo livro, chamada "Como vencer um debate sem precisar ter razão" e recheada de notinhas pentelhas do astrólogo Olavo de Carvalho -- que não só tenta sequestrar o texto original, como se mostra um dedicado praticante daquilo que diz combater.

por Marcus Pessoa, às 12:06 -

Voltar para a página inicial