16 de janeiro de 2007
A Rainha
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Sabe aqueles filmes de cavalaria, que penetram na intimidade dos reis, rainhas e nobres, para mostrar o lado humano dos personagens históricos? A Rainha, de Stephen Frears, é um deles, com a diferença que os personagens ainda estão bem vivos e continuam até hoje nos mesmos cargos.
O filme estréia no Brasil em 9 de fevereiro, já deu o Globo de Ouro a Helen Mirren e deve colecionar na semana que vem várias indicações ao Oscar.
O núcleo da história são os sete dias entre a morte e os funerais da princesa Diana, e a relação atribulada entre a rainha Elizabeth I e o recém-eleito primeiro-ministro trabalhista Tony Blair.
Como se sabe, Elizabeth odiava Diana e resistiu o quanto pôde a transformar sua morte numa questão de Estado, pois Diana não era mais a Princesa de Gales. A rainha recolheu-se à sua casa de campo e não deu qualquer satisfação ao povo que chorava e se despedia da mais popular integrante da realeza.
Nas mãos de um diretor qualquer, teríamos um filme medíocre, mas com Stephen Frears vemos um delicado estudo psicológico -- com profusos momentos de comédia, proporcionados pelo choque cultural entre a conservadora família real e seus súditos plebeus (representados por Tony Blair, sua esposa e a equipe de governo).
O que é mais gratificante no favoritismo de Mirren ao Oscar de melhor atriz é que sua performance não é espetaculosa nem tem qualquer exagero. É um trabalho cheio de sutilezas em um papel de grande profundidade.
Apesar de trabalhar com uma história real envolvendo pessoas públicas, Frears construiu livremente os personagens, dando-lhes um aspecto tridimensional que seria impossível de captar apenas a partir de fatos conhecidos.
Assim, Tony Blair é ora um hábil estrategista político, ora um paspalho bajulador. Igualmente, Elizabeth I se mostra ora confusa sobre seu papel como chefe de Estado, ora tomada de uma cáustica lucidez.
Não há nem sinal daquela emoção apelativa tão comum em "filmes de Oscar". É um trabalho sóbrio, mas que deixa o espectador com um sorriso bobo no rosto...
por Marcus Pessoa, às
18:46 -