25 de agosto de 2007
A música que veio do frio
Sou um grande fã de música eletrônica, e lembro exatamente do dia em que isso começou: ao ouvir pela primeira vez, nos idos de 1987, o clássico "Radioactivity", do Krafktwerk, que mudou pra sempre a minha sensibilidade musical.A ascensão do techno-rock, big beat e trip hop do final dos anos 90 levou a e-music para as massas, mas hoje, poucos anos depois, os principais expoentes do movimento mostram sinais de envelhecimento precoce.
Que mané Daft Punk. Que mané Chemical Brothers. A melhor banda eletrônica da atualidade é o duo sueco The Knife.
Os irmãos Karin e Olof Dreijer vêm construindo uma obra onde a aparente frieza dos sons artificiais é driblada por apuradas melodias, samples "orgânicos" e pelo extraordinário vocal de Karin.
É uma obra em movimento, desde o primeiro disco (2001), meio tosco e lo-fi, passando por "Deep Cuts" (2003) e seu pop ensolarado, até "Silent Shout" (2006), sofisticado, anti-comercial e bem dark.
Selecionei uma faixa de cada disco, pra dar uma idéia dessa evolução. Você pode usar os botões para navegar na seleção.
1. Parade
2. Heartbeats
3. Marble House
(não é possível ouvir pelo feed)
"Deep Cuts" ganhou um Grammy, mas o Knife sabotou o prêmio, mandado duas mulheres vestidas de gorila (!) para recebê-lo. Várias letras têm um forte conteúdo político, e eles quase não dão entrevistas, não aparecem em seus próprios videoclipes, e em fotos e shows estão sempre vestidos com máscaras.
No entanto, Karin participou de cara limpa do belo vídeo de "What Else is There?", sua colaboração com os conterrâneos do Röyksopp, e que tocou nas pistas de dança do mundo todo.
Outro momento de exposição foi o comercial do televisor Sony Bravia, que usou "Heartbeats" como trilha, numa cover acústica do também sueco José González. É um filme muito bonito e teve muita repercussão na Europa.
A última extravagância foi a turnê e DVD "Silent Shout, an Audiovisual Experience", onde a banda apresenta novos arranjos para as músicas e usa uma impressionante colagem de vídeos e efeitos de luz contra-indicados para epilépticos -- o que, tendo em vista as últimas turnês do Daft Punk e do Kraftwerk, também espetáculos cênicos e visuais, coloca o Knife de pleno direito no melhor da linha evolutiva da e-music.
por Marcus Pessoa, às 23:22 -