Velho do Farol

Porque sim.

Velho do Farol

27 de março de 2006

Pronto, falei

BombordoEncarei de frente, na minha estréia no blog coletivo Bombordo, minha profunda decepção pelo fato do partido que eu ajudei a fazer crescer ter roubado dinheiro público pra se perpetuar no poder.

Quem acompanha esse blog sabe que evitei tocar no assunto do valerioduto até agora. Em parte por vergonha, em parte porque eu queria ver até onde a coisa ia dar. Foi um pouco menos pior do que parecia no início -- "apenas" 55 milhões de desvios já comprovados --, mas igualmente ruim para a história desse país.

Hoje sabemos que o Ministro da Fazenda é capaz de mentir ao Presidente, igual menino traquinas, dizendo que não foi ele que quebrou o sigilo do caseiro. E sabemos que a cara do Presidente não treme quando o mesmo grupo político que fez esse assalto aos cofres públicos permanece com poder dentro de seu partido.

Quem nunca comeu melado... tá certo que esse governo tem coisas positivas, mas o espetáculo de deslumbramento da cúpula petista com o poder é algo para estudos antropológicos. Agora a gente não pode mesmo confiar em político nenhum, e nossa única forma de julgamento é a intuição. Eu intuo que o PSDB é um partido elitista filho da puta. E intuo que o PT precisa passar pelo ostracismo pra deixar de ser besta.

Mesmo assim, sou como mulher de malandro, e vou acabar votando nesse pessoal de novo. É que eu fico pensando nos pobres dos brasileirinhos que não merecem o areópago tucano de novo com suas receitas infalíveis pra levar o Brasil à merda.

Pra quem não sabe, o Bombordo (que já está na barra lateral) é o blog da lista Blog-Left, reunião de blogueiros de esquerda e/ou progressistas (não me peça pra definir, please), e se propõe a ser uma arena de debates sobre o momento político. Vão lá, todo dia útil vai ter um artigo de um autor diferente.

por Marcus Pessoa, às 23:44 -

17 de março de 2006

Royal straight flush

Direto do Charles Pilger:

"Jason McElwain é um garoto que tem autismo. Ele é classificado como um autista altamente funcional, o que faz com que ele consiga se relacionar com outras pessoas, se desenvolver a ponto de ter uma vida quase comum e, como muitos garotos americanos, ser apaixonado por basquete.

Devido à sua pouca altura ele nunca participou do time da escola, mas era uma espécie de mascote, ajudando no que podia e incentivando os colegas. Querendo recompensar a sua dedicação, o técnico Jim Johson resolveu colocar ele no banco de reservas no último jogo da temporada 2005-06. Faltando 4 minutos para acabar o jogo, com o placar favorável, Johson se perguntou 'e porque não?' e deu a Jason a chance de jogar, entrando na quadra para o delírio da torcida.

Em 4 minutos ele fez 20 pontos".



(duração 2:23 min - 5,6 MB)

por Marcus Pessoa, às 23:53 -

13 de março de 2006

Clear Static

Clear Static

O disco de estréia dessa banda californiana (nas lojas do hemisfério norte em maio) tem tocado bastante aqui em casa. Muitos grupos novos lançam ótimos singles, mas é quando eu vejo um álbum bom do início ao fim que eu me arrisco a bancar a aposta.

O Clear Static põe uma pitada de guitarras barulhentas numa receita new romantic que remete ao pop perfeito de alguns luminares dos anos 80, principalmente o Duran Duran. O fato do vocalista ter o timbre semelhante a Simon Le Bon, e o DD os ter convidado para abrir alguns shows de sua última turnê, não ajuda a afastar esse parentesco (mimetismo?).

Tô nem aí. São lindas melodias, refrões ganchudos, romantismo deslavado... pop rock de primeira. Lançaram um single, Make Up Sex, dançante e divertido. Dancing with Strangers é uma balada triste pra dançar de rosto colado e se apaixonar.

Nem consigo escolher qual música colocar aqui. Vai no uni-duni-tê.

Living Like the Movies
(Clear Static)

And your heart is a stained and secret face
And your heart was touched and melts away

Slow down, slow down
It's not the promises you keep but the sidewalks where you sleep
Wake up, wake up
Jet plane dreaming street rat screaming

Living like the movies
She was glitter today, I don't see her that way
Living like the movies
Well I can only pretend that the beginning's the end

And your tears dissolve the hurt within
And your heart a shallow covered sin

All the trashy starlets falling from the sky
I open up my arms catch one two three floating by

por Marcus Pessoa, às 22:30 -

11 de março de 2006

Para o alto e avante (II)

Nietzche Super-Homem

Idéia roubada daqui.

por Marcus Pessoa, às 18:31 -

10 de março de 2006

Superstars DJs, let it go!

O ótimo blog português Sound + Vision repercutiu uma matéria publicada no Village Voice, a respeito de personalidades da música que viraram DJs, entre eles, Jarvis Cocker (Pulp), Martin Gore (Depeche Mode) e Peter Hook (New Order). Segundo o texto, "os promotores de noites dançantes perceberam que as multidões não queriam mais doses intermináveis de batida instrumental, mas antes canções".

Pra quem não sabe, Belém é uma das capitais mundiais do psy trance, uma variação do techno extremamente pesada e repetitiva. Os principais DJs de psy do mundo já vieram tocar aqui, e o público lota qualquer evento do tipo. Por outro lado, há uma queixa recorrente do público não-iniciado: de que gostam de sair pra dançar, gostam de música eletrônica, mas não conseguem dançar horas seguidas aquela batida repetitiva.

O texto prossegue: "a velha guarda DJ responde, apontando sobretudo as deficiências técnicas dos músicos/DJs que não sabem acertar batidas", referindo-se àquelas técnicas de mixagem onde as músicas se encaixam umas nas outras, sem interrupção.

Isso me lembra de uma polêmica boba a respeito de discotacagem com discos de vinil, que saiu uma vez na revista Beatz. Top DJs tendem a se levar a sério demais, e nessa matéria diziam que não podiam ser respeitados os DJs que tocavam com CDs, porque "era muito fácil" e isso era "uma agressão à cultura do DJ".

Realmente, é legal ver o cara fazendo piruetas com os vinis, como por exemplo o DJ Marky, exímio na técnica. Mas daí a enaltecer a técnica acima da sensibilidade vai uma grande distância. O que interessa, no fundo, é música boa rolando na caixa.

DJ Dolores, um dos melhores da cena brasileira, disse isso com todas as letras nesse texto lindo: qualquer um pode ser DJ.

"A arte de tocar um disco, seguido de outro, se possível mixando, para não perder a batida, aparentemente é bem simples. E, na verdade, é mesmo. Qualquer um pode levar suas faixas favoritas, seja num suporte de vinil, em CD ou mp3 e animar a multidão. Numa das melhores festas em que já fui nessa longa vida boêmia, os DJs usavam apenas fitas cassetes. Foi em Havana, Cuba, lugar carente de tecnologia e farto de criatividade".

Eu sou um DJ amador que já deu em longínquas eras todos os seus vinis de presente para os amigos. Já vi DJs profissionais esvaziarem uma pista tocando a mesma batida repetitiva durante uma hora inteira. Já vi caras assim me perguntando que músicas eu estava tocando, sendo que eram de bandas incensadas no mundo indie. O problema é que eles sabem tudo do estilo que tocam, mas muito pouco do resto.

Não sei acertar batidas direito, mas procuro seguir à risca o mais importante, o princípio de que o DJ não é senhor da platéia, mas seu servo. Não vou tocar música que não gosto, mas não vou obrigar o público a escutar o que eu estou a fim naquele momento. A reação da pista é que determina se um estilo continua ou dá lugar a outro. Se a pista esvazia e o DJ continua colocando as mesmas músicas, é porque ele se acha mais importante que o público.

Eu ponho música pra ver todo mundo dançando. Ajudar a fazer as pessoas felizes me realiza, e a dança nos leva a conexões misteriosas. Engavetei o texto dos melhores discos de 2005, mas esse trecho, sobre o espetacular disco de Madonna, explica bem o que penso:

"O mundo segue sua rotina e popstars tornam-se mais relevantes nas revistas que em nossas vidas. A número um deles abre sua casa para os fotógrafos e os convence de que é só isso, uma mãe de família com um marido também famoso. Ao mesmo tempo, tranca-se em estúdio com o melhor DJ do mundo para ao final mostrar que seu negócio ainda é música. Volta às origens, ao propor que se coma esse biscoito fino no lugar certo. Música serve pra várias coisas, mas na pista sua função é mais nobre. Nós queremos nos perder, nos esquecer de nós mesmos e chegar a algum tipo de comunhão com a natureza, ou com Deus, o que for. Não precisa globo espelhado nem estrobo; bastam movimentos que nos retirem do normal. Isso não é tão diferente de um monge cantando mantras ao infinito, ou de um penitente surrando a si mesmo. Madonna, em sua melhor coleção de canções em muitos anos, confessa que viveu".

por Marcus Pessoa, às 13:59 -

5 de março de 2006

Joyeux Noel

Joyeux Noel PosterIndicado ao Oscar de filme estrangeiro, Joyeux Noel (Feliz Natal em português; ainda não lançado no Brasil) conta uma história real, acontecida em dezembro de 1914, na Primeira Guerra Mundial, quando integrantes de exércitos inimigos se confraternizaram na noite de Natal.

Não foi apenas um cessar fogo. Os soldados ingleses, franceses e alemães saíram de suas trincheiras, trocaram presentes, assistiram a uma missa juntos e até jogaram futebol. O filme talvez seja um pouco meloso, mas só o fato de retratar esse acontecimento único já o torna muito emocionante.

Quando você olha seu "inimigo" no olho e percebe que ele é igual a você, não dá pra matá-lo. Todas as justificativas bem-intencionadas para guerras são, em última instância, uma tentativa de aceitar o inaceitável. Endurecemos nosso coração para, talvez, quem sabe, um dia, com sorte, se não der tudo errado e se Deus quiser, aquela matança gere algum benefício pra alguém.

Os comandos militares dos países envolvidos no episódio reprimiram duramente os pelotões que participaram da trégua, e nada chegou à imprensa. Em determinado momento, um general se pergunta o que aconteceria "se o público soubesse disso". Pois é, pessoas deixarem por uma noite de matar-se umas às outras é profundamente subversivo! Pra se certificar que o fato não se repetisse, foram programados grandes bombardeios para todos os Natais subseqüentes da guerra.

Como não podia deixar de ser, o filme faz um comentário sobre a situação atual. Um bispo inglês afasta o padre-capelão que rezou a missa naquela noite e faz um sermão para os soldados:

Cristo, nosso Senhor, disse: "Não pense que eu vou trazer a paz. Não trarei a paz, só uma espada". Bem meus irmãos, a espada do Senhor, está em suas mãos. Vocês são os defensores da civilização. As forças do bem contra as forças do mal. Pois essa guerra é uma cruzada, uma guerra santa, para salvar a liberdade do mundo. Na verdade vos digo: os alemães não são como nós, filhos de Deus. Bombardeiam cidades habitadas somente por civis, os filhos de Deus? Andam armados se escondendo atrás de mulheres e crianças, os filhos de Deus? Com a ajuda de Deus, devemos matar os alemães, bons ou maus, jovens ou velhos. Matar cada um deles, para que isso não se repita.


Pra bom entendedor, etc, etc.

por Marcus Pessoa, às 03:14 -

Voltar para a página inicial