15 de maio de 2007
Age of consent
A Vanessa fez um post sobre uma discussão no congresso peruano a respeito do rebaixamento da age of consent -- ou seja, a idade onde o jovem pode legalmente consentir em fazer sexo. Fiz um comentário lá, mas tem outras coisas que eu quero dizer.A única crítica que se tem feito ao magnífico Notas sobre um Escândalo é sobre a trilha sonora de Philip Glass, indicada ao Oscar. A trilha é muito expressiva, mas se intromete o tempo todo e cria uma atmosfera artificial de suspense na história da professora que se envolve com um aluno adolescente e é vampirizada emocionalmente por uma colega.
O problema principal é que o caso não é um grande escândalo que justifique esse clima paranóico sugerido pela trilha. É no máximo um pequeno escândalo: um garoto de 15 anos no auge da sua sexualidade assedia insistentemente sua professora bonitona, até conquistá-la e ter o que todo adolescente quer -- uma vida sexual ativa.
Eu entendo que muitas pessoas bem-intencionadas achem que proibir o jovem de decidir quando quer fazer sexo é protegê-lo. Entendo mas não concordo.
O Peru estuda baixar a idade do consentimento para 14 anos, em lugar dos 18 atuais. Pra quem não sabe, o Brasil, ao contrário do que imagina o senso comum, também tem uma age of consent de 14 anos, e não 18. Existe uma certa dubiedade na interpretação do crime de "corrupção de menores", mas o crime de "sedução" foi retirado do código penal. Sedução era quando um homem mais velho usava de malícia (sic) com uma menina para convencê-la a transar com ele...
Alguém duvida que jovens de 14 anos querem transar?
O argumento de que pessoas mais velhas podem pressionar psicologicamente por um consentimento é inócuo, porque essa pressão também é feita por pessoas da mesma idade. O que mais tem por aí são meninos fazendo falsas promessas a meninas para levá-las para a cama. Sexo sempre envolve algum tipo de relação de poder, e é irreal achar que os jovens estarão protegidos disso proibindo-os de escolher seus parceiros.
Por outro lado, também faz parte do senso comum no Brasil rir quando aparecem notícias de professoras norte-americanas presas por transarem com alunos. O caso mais famoso é o de Debra Lafave, uma beldade que se envolveu com um garoto de 14 anos.
Os comentários aqui são repetitivos: "como esses gringos são tacanhos". "Eu é que queria ser abusado pela minha professora".
Mas esses comentários também são tacanhos, e não expressam nada mais que o bom e velho machismo latino-americano. Se, em vez da Debra, fosse um professor bem-apessoado de 25 anos de idade que se envolvesse com uma aluna de 14, não teríamos galhofa, mas frases no estilo "o caso das meninas é diferente", etc.
Desconfio que uma parte das pessoas que apóiam essa interdição sexual antes dos 18 concorda que não faz sentido proibir um menino de transar com uma mulher mais velha, mas não acha bom uma menina fazer a mesma coisa com um homem mais velho. Para não admitirem o seu machismo, apóiam a proibição pra todo mundo.
O caso que mais me tocou não foi nem o de Debra, mas o de Mary Kay Letourneau, pois o aluno que se envolveu com ela disse reiteradas vezes que a amava muito. Psiquiatras foram escalados para mostrar ao distinto público que um garoto de 14 anos não tem maturidade pra pensar essas coisas...
Ela voltou para a prisão depois que, em liberdade condicional, foi flagrada conversando com a "vítima" dentro de um carro. Mas o caso teve um final feliz: ela e o rapaz casaram-se, depois de quase dez anos do estado tentando se intrometer em sua relação. E eu aqui derramei uma lágrima discreta com essa autêntica história de amor dos tempos modernos.
por Marcus Pessoa, às 17:48 -
14 de maio de 2007
Pós-punk safra 2007
Em uma cena de Notas sobre um Escândalo, Steven, o amante adolescente de Sheba (Cate Blanchett), pega uma cópia em vinil do Kaleidoscope, de Siouxsie and the Banshees, e pergunta, "é bom?"Sheba responde: "é uma obra prima. Não te ensinam essas coisas?"
E eu fico pensando que aqueles que testemunharam a última revolução do rock (o pós-punk) já estão nos quarenta ou quase. E fico tentado a concordar com o Gaspar Noé, que o tempo destrói tudo. Depois fico achando a frase idiota, e que quem destrói tudo somos nós. E depois volto a pensar no quanto é reconfortante essa coisa de que havia um paraíso e nós o perdemos. Porque pelo menos existiu um paraíso algum dia. E não faz a menor diferença que isso não seja verdade.
Steven e seus coleguinhas, é claro, não sabem nada a respeito, mas talvez nem precisem. Vivem numa década onde a melancolia ácida daqueles tempos está sendo revisitada por uma nova geração de bandas de rock. O mundo está numa deprê coletiva, e pra mim quem melhor expressa esse zeitgeist são o Interpol e os Editors, cujos discos novos estão pra ser lançados, quase ao mesmo tempo.
A julgar pela primeira música de trabalho de cada um, os ingleses levaram a melhor. A faixa do Interpol é forte mas tem um certo sabor de autoplágio. Já os Editors compuseram uma obra prima de romantismo como nunca tinham feito antes; um crescendo magnífico que te deixa num estado bobo de contentamento.
Julguem por vocês mesmos.
The Heinrich Maneuver
(Interpol)
Smokers Outside the Hospital Doors
(Editors)
por Marcus Pessoa, às 07:12 -
10 de maio de 2007
Pidgin
Nunca fui fã de bate-papo pela internet, e quando tive que me render a ele, preferi adotar um programa simples e leve. Fico um tanto incomodado com a tranqueira brega do Windows Live Messenger e seus badulaques inúteis que sugam os recursos do computador.O Pidgin é antigo Gaim, um comunicador de código aberto que roda em Windows e Linux e conecta em uma grande variedade de redes de chat, entre elas a MSN, o IRC e o Google Talk. Ele chega agora à versão 2.0 e se mostra um programa maduro e de fácil utilização.
O Google Talk ganhou uma certa popularidade graças à integração ao Orkut e ao Gmail. Alguns amigos que passam o dia em suas respectivas senzalas -- que não permitem a instalação de comunicadores -- falam com o mundo exterior através do bate-papo do Gmail, que nada mais é do que o Google Talk integrado à página. Para instalá-lo no Pidgin, basta seguir a explicação do Google (e onde se lê Jabber, leia-se XMPP).
Eu uso as duas redes (MSN e Google) simultaneamente, e meus contatos ficam organizados numa lista única. A janela de conversas também é uma só, e quando estou falando com vários contatos ao mesmo tempo, eles aparecem em abas.
O Pidgin tem correção ortográfica e um recurso muito útil: eu posso ver se aquele contato no MSN com quem eu não falo há um tempão ainda me tem na lista dele -- facilmente e sem ter que recorrer a esses sites que tem por aí.
O programa tem algumas limitações, e a principal delas é a ausência de conexão por áudio e vídeo. Existe um projeto paralelo para adicionar esse recurso, mas não esperem isso para breve.
De outras limitações eu gosto: ele até recebe aquelas imagens animadas pentelhas que os usuários do MSN tanto gostam de usar como ícones, mas não permite salvá-las em seu próprio arquivo. Também não funciona aquela coisa inútil, os winks.
Até o momento, tem satisfeito plenamente as minhas necessidades.
por Marcus Pessoa, às 15:18 -
7 de maio de 2007
Décadas
Não dá pra dizer que foi uma grande surpresa.
O New Order encerrou definitivamente suas atividades, segundo o baixista Peter Hook. Trinta anos depois que Hook, Bernad Summer e Stephen Morris uniram-se a Ian Curtis para formar o Warsaw, o ciclo se encerra.
A banda ainda terá algumas faixas lançadas na trilha sonora de Control, cinebiografia de Curtis dirigida por Anton Corbijn, com premiére mundial no Festival de Cannes, no próximo dia 17 de maio.
O New Order lançou seu último disco minimamente interessante, Get Ready, em 2001. Em 2005 saiu o irrelevante Waiting for the Sirens' Call, que nem esquentou no toca discos aqui. Mas é como aquela tia que a gente gosta, não vê há um tempão, e quando morre a gente sente o choque. Esquecemos os anos de distância, e lembramos só dos momentos felizes do passado.
Deixarão saudades.
Procession
(New Order)
There is no end to this
I have seen your face
But I don't recognize all these things
You must have kept behind
It's a problem, you know
That's been there all your life
I try to make you see the world without you
That just turned black and white
At night it gets cold and
You'd dearly like to turn away
An escape that fails
Makes the wounds that time won't heal alone
Alone, alone, alone
There is no end to this
I can't turn away
Another picture but the scene
It's still the same
There is no room to move
Or try to look away
Remember, life is strange
Life keeps getting stranger every day
A mass of harmless attitudes
A type that won't subside
No matter what they say
You knew your heart beats you late at night
Your heart beats you late at night
Your heart beats you late at night
por Marcus Pessoa, às 01:14 -